O Brasil intensifica os esforços para responder à investigação aberta pela China sobre o aumento das importações globais de carne bovina, entre 2019 e 2024. A investigação, que avalia possíveis impactos na indústria local, pode resultar em restrições comerciais. A China é o maior mercado para a carne bovina brasileira, que em 2024 exportou 2,89 milhões de toneladas do produto, sendo 1,33 milhão de toneladas destinadas ao país asiático, movimentando US$ 6 bilhões.
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) será a principal representante do setor no processo. Nesta terça-feira (14/1), a entidade se cadastrou na investigação, que pode durar até oito meses, para acompanhar os desdobramentos. O presidente da Abiec, Roberto Perosa, afirmou que as exportações seguem normais e que não houve impacto no planejamento das empresas. “Nada muda. A investigação não trouxe instabilidade e estamos confiantes de que não há bases para acusações”, declarou.
Segundo Perosa, o aumento das exportações brasileiras reflete um crescimento constante ao longo da última década, sem causar prejuízo à indústria chinesa, que registra crescimento de 4% ao ano. A maior parte da carne brasileira exportada é destinada ao processamento na China, com cortes que não competem diretamente com os produtos locais.
O governo brasileiro também está mobilizado. O Ministério da Agricultura, em parceria com o Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) e Relações Exteriores, já realizou reuniões para alinhar a defesa. Na semana passada, o Brasil peticionou para ser parte interessada no processo e apresentou argumentos iniciais ao Ministério do Comércio da China, destacando a complementariedade dos produtos exportados.
Luis Rua, secretário de Comércio e Relações Internacionais do Ministério da Agricultura, explicou que a defesa final será enviada em fevereiro, após o recebimento dos questionários chineses. “Nossa estratégia inclui provar que os cortes exportados não competem diretamente e que fatores externos, como doenças, impulsionaram as vendas”, afirmou.
O Brasil também solicitou uma audiência com autoridades chinesas para reforçar os argumentos. Segundo fontes em Brasília, a investigação reflete preocupações internas da China, cuja indústria enfrenta desafios econômicos e preços baixos. A expectativa é de que o Brasil consiga superar o episódio sem maiores impactos nas relações comerciais.
Foto: Wenderson Araujo/Trilux