Durante a Cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro, o governo brasileiro assinou nesta segunda-feira (18) um memorando de entendimento com a Argentina para viabilizar a chegada do gás natural dos campos de Vaca Muerta ao mercado brasileiro. O acordo, articulado pelo Ministério de Minas e Energia (MME), tem como objetivo estruturar uma parceria estratégica que garanta segurança energética para os dois países.
O ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, e o ministro da Economia da Argentina, Luís Caputo, formalizaram o entendimento em uma cerimônia que destacou a relevância bilateral do projeto. Segundo o MME, o gás de Vaca Muerta, uma das maiores reservas de gás não convencional do mundo, poderá ser exportado para o Brasil por meio de rotas já existentes, como o Gasoduto Brasil-Bolívia (Gasbol), ou, eventualmente, por novas alternativas.
O acordo prevê a criação de um grupo de trabalho entre técnicos dos dois países para estudar as melhores soluções de infraestrutura. A inversão do fluxo do Gasbol é a opção mais viável no curto prazo, já que outras alternativas, como a construção de novos gasodutos que liguem diretamente a Argentina ao Brasil, enfrentam desafios financeiros e logísticos.
Especialistas do setor descartam a viabilidade de novos gasodutos devido ao alto custo de investimento, que dependeria de capital privado. A delicada situação econômica da Argentina é outro fator que reforça essa limitação.
O ministro Alexandre Silveira destacou que o Brasil já importa gás de fracking dos Estados Unidos e agora passará a adquirir o recurso da Argentina. Ele defendeu a realização de estudos para garantir que a extração por fraturamento hidráulico seja feita de forma adequada, conciliando segurança energética com práticas responsáveis.
“O enfrentamento das mudanças climáticas não é contraditório com a utilização do gás como combustível da transição energética. Pelo contrário, buscamos equilíbrio e bom senso”, afirmou Silveira. Ele reforçou que o gás será essencial para a transição energética justa que o governo brasileiro defende.
Fracking, ou fraturamento hidráulico, é o método usado para extração de combustíveis líquidos e gasosos do subsolo. Apesar de polêmico, o ministro sustentou que sua aplicação, desde que bem controlada, é fundamental para atender à demanda energética global enquanto o mundo caminha para fontes mais limpas.
De acordo com o MME, o Brasil pretende importar inicialmente 2 milhões de metros cúbicos por dia (m³/d) de gás de Vaca Muerta. A meta é aumentar para 10 milhões de m³/d nos próximos três anos e alcançar 30 milhões de m³/d até 2030, volume equivalente ao que o país importava da Bolívia antes do esgotamento das reservas bolivianas.
O gás de Vaca Muerta, extraído na província argentina, é competitivo em termos de custo. Ele sai a US$ 2 por milhão de BTU (unidade térmica britânica) e pode chegar ao Brasil ao custo de US$ 7 a US$ 8 por milhão de BTU, abaixo da média atual no mercado brasileiro, que varia entre US$ 11 e US$ 12 por milhão de BTU.
Luís Caputo, ministro da Economia da Argentina, ressaltou que o acordo fortalece os laços entre os dois países em um momento em que a relação bilateral foi abalada pela eleição de Javier Milei na Argentina. Para o Brasil, o entendimento representa uma oportunidade de diversificar a matriz energética e reduzir custos com a importação de gás.
O projeto também sinaliza o compromisso do governo brasileiro em garantir a segurança energética enquanto promove uma transição gradual para fontes renováveis. Com a assinatura deste memorando, Brasil e Argentina avançam na construção de uma parceria estratégica com potencial para beneficiar suas economias e ampliar a integração regional.
Foto: Divulgação/MME