A bancada do Partido Democrático Trabalhista (PDT) na Câmara dos Deputados se reunirá nesta quarta-feira, 30 de outubro, com uma pauta delicada: discutir a possível saída do ex-ministro e ex-presidenciável Ciro Gomes da legenda. O debate foi motivado pelas atitudes de Ciro, que, na visão de alguns parlamentares, têm se distanciado dos princípios e diretrizes do partido, prejudicando o desempenho nas recentes eleições municipais e criando obstáculos para as eleições de 2026.

Duas alas se formaram no PDT: uma, mais rígida, defende a expulsão de Ciro, enquanto outra propõe apenas a sua saída da vice-presidência nacional do partido. Deputados ouvidos pela reportagem relataram descontentamento com as posições políticas de Ciro, que alegam estar “seguindo outro rumo” e agindo contra candidaturas pedetistas, o que teria prejudicado o partido no primeiro turno das eleições municipais de 2024 e poderia afetar o cenário futuro.

Segundo o deputado Josenildo (PDT-AP), se não houver consenso dentro do partido, será apresentado um requerimento formal pedindo a análise da expulsão do ex-ministro. “Ciro está desviando a rota do partido. Se não houver um entendimento, protocolarei um pedido de expulsão. Ele deve buscar um partido que compartilhe de suas atuais visões políticas”, afirmou Josenildo, resumindo o sentimento de uma parcela significativa da bancada.

As atitudes de Ciro durante as eleições municipais são apontadas como uma das principais fontes de insatisfação entre os parlamentares. Em Belo Horizonte, ele criticou a candidatura da deputada federal Duda Salabert (PDT-MG) à prefeitura, alegando que ela “não tem preparo” para o cargo. Em resposta, Duda afirmou em grupos internos que Ciro tem sido um “repelente de votos”. Em Fortaleza, cidade de forte influência do PDT, Ciro teria dado apoio velado ao deputado federal bolsonarista André Fernandes, o que foi interpretado como um ataque direto ao candidato pedetista ao governo municipal, Evandro Leitão (PT), ex-membro do PDT que migrou para o Partido dos Trabalhadores.

Essa ruptura teve raízes profundas no cenário político do Ceará. Em 2022, Ciro rompeu laços políticos com seu irmão, o senador Cid Gomes (PSB-CE), gerando uma série de desdobramentos, incluindo a saída de Cid e seus aliados do PDT e, consequentemente, o rompimento com o PT, principal aliado no estado. Naquela ocasião, o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), apoiou Fernandes, um movimento que gerou críticas dentro do partido e colocou em xeque a unidade interna do PDT.

A Juventude do PDT, setor jovem e progressista da legenda, também demonstrou insatisfação com o apoio de Ciro a candidatos de direita e criticou a postura pública do ex-ministro em nota oficial. Em resposta, Ciro solicitou “mais respeito” e ameaçou expor pontos críticos que, segundo ele, “o partido precisa ouvir”, reiterando que o PDT “não é nem nunca será um puxadinho do PT”.

A derrota do PDT nas eleições municipais de 2024 deixou um sentimento de frustração entre os parlamentares. O partido perdeu 163 prefeituras em relação a 2020, elegendo apenas 148 prefeitos, uma queda significativa. No Ceará, a situação foi ainda mais preocupante, com o PDT reduzindo seu número de prefeitos de 67 para apenas cinco, enquanto o PSB, partido de Cid Gomes, emergiu como a força política mais expressiva no estado, conquistando 65 prefeituras. Esse desempenho insatisfatório deu o tom da reunião de bancada após o primeiro turno, onde o clima era descrito como de “terra arrasada”.

O encontro desta quarta-feira contará com discussões para delinear as estratégias do PDT para 2026. A sobrevivência do partido depende de sua capacidade de eleger ao menos 13 deputados ou alcançar 2,5% dos votos válidos, assegurando assim o cumprimento da cláusula de barreira, que impede o corte de recursos do fundo partidário e de tempo de propaganda gratuita.

Dentre as opções discutidas para preservar a legenda, está a possibilidade de formar uma federação partidária, e três possíveis aliados foram mencionados: PSB, PSDB e Solidariedade. Entretanto, a ideia de aliar-se ao PSDB enfrenta resistência, pois isso poderia significar o apoio a uma eventual candidatura presidencial do governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, em vez de focar nas eleições proporcionais para a Câmara e o Senado, onde a bancada do PDT acredita que o partido precisa concentrar seus esforços para garantir sua sobrevivência política.

Em relação ao posicionamento do partido no governo, o deputado Josenildo ressaltou que o PDT, como parte da base de apoio ao presidente Lula, deve evitar candidaturas presidenciais paralelas. “Se o partido pretende lançar candidato próprio para a presidência, então o primeiro passo deve ser abrir mão de seu espaço no governo. Não se pode estar no governo e, ao mesmo tempo, planejar uma candidatura contra ele. Isso é desleal”, afirmou o parlamentar, reforçando a necessidade de coerência nas decisões da legenda.

A reunião da bancada do PDT é aguardada com expectativa, já que os resultados desse encontro podem definir o futuro de Ciro Gomes dentro do partido e influenciar os rumos da legenda para os próximos anos. Em meio às discussões, a prioridade é assegurar que o PDT continue relevante no cenário político nacional, seja por meio de coligações estratégicas ou fortalecendo sua base parlamentar. O desenlace desse impasse poderá não apenas redefinir a trajetória de Ciro Gomes, mas também redesenhar as alianças e o projeto do partido para as eleições de 2026.


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