O coronel Jorge Eduardo Naime Barreto, ex-chefe do Departamento Operacional da PM-DF, disse que bolsonaristas acampados no QG do Exército em Brasília viviam “em um mundo paralelo”.
Escutei relatos que falei: ‘não é possível que essa pessoa está me falando isso’. Teve uma pessoa que me abordou um dia e falou para mim que era um extraterrestre, que estava ali infiltrado e, assim que o Exército tomasse, os extraterrestres iam ajudar a tomar o poder, afirmou o Coronel Jorge Naime.
Segundo Naime, os manifestantes só consumiam as informações que eram geradas e divulgadas no acampamento e estavam “na bolha”.
O coronel é acusado por omissão nos atos golpistas de 8 de janeiro e presta depoimento na CPI dos Atos Antidemocráticos, na Câmara Legislativa do DF.
Naime alegou que as informações davam conta de que o movimento golpista perdia força e que acreditavam que, com a posse de Lula, acampamento iria naturalmente acabar.
‘Máfia do Pix’ atuava em acampamento golpista em Brasília. Segundo Naime, havia comércio ilegal no local, com tendas que eram alugadas por até R$ 600 para que ambulantes as usassem durante o dia.
“Tínhamos denúncias da ‘máfia do Pix’, que eram várias lideranças dentro do acampamento. Não temos [nomes dessas pessoas], mas elas ficavam no acampamento e era o tempo inteiro pedindo para as pessoas que estavam ali que fizessem Pix para manter o acampamento.”
Desentendimento entre bolsonaristas. “Uma grande discussão que tinha, era de um grupo querendo descer para Esplanada [no dia 8] e outro grupo ficar em frente ao Quartel. E a discussão dos que queriam descer, contra os que queriam ficar, era justamente essa questão do Pix.”
Coronel alegou que Exército impediu tentativas de conter o ato golpista e que em um episódio foi inclusive retirado do Setor Militar. “Fui acessar a área onde toda a população estava acessando, fardado, com patrulheiro do lado, mas fui abordado por um soldado que botou a mão no meu peito, me proibiu de entrar, chamou o GSI, a comando do capitão Roma. A população veio correndo, veio um sargento me apontando o dedo na cara, me mandando sair, a população começou a me xingar e fui colocado para fora.”
Naime Barreto foi preso em fevereiro por suspeita de omissão antes e durante as invasões às sedes dos Três Poderes após ter sido afastado do Departamento Operacional da PM-DF no dia 10 de janeiro.
Para o ex-interventor da Segurança Pública do Distrito Federal Ricardo Cappelli, o coronel retardou propositalmente a linha de contenção da PM.
Capelli disse ter visto com os “próprios olhos” os comandados por Naime Barreto avançando “lentamente” contra os golpistas.