Materia de autoria de Roberto de Lira, publicado no InfoMoney sob o título “Deflação do IPCA em agosto aumenta dúvidas sobre a necessidade de BC elevar juros”, aborda um tema central nas discussões econômicas: o impacto da deflação do IPCA de 0,02% em agosto nas decisões futuras do Comitê de Política Monetária (Copom) sobre a taxa de juros no Brasil. A deflação, divulgada pelo IBGE, gerou questionamentos entre economistas e analistas de mercado sobre a necessidade de uma elevação da taxa Selic na próxima reunião do Copom, programada para a semana seguinte. Esse dado adiciona complexidade ao cenário, que já é marcado por expectativas inflacionárias acima da meta estabelecida.
A deflação inesperada trouxe alívio para muitos especialistas, que veem o resultado como positivo para a política monetária do país. Segundo o economista André Valério, do banco Inter, o IPCA de agosto apresentou uma composição qualitativa favorável, refletindo uma desaceleração das pressões inflacionárias observadas em julho, especialmente no núcleo da inflação e na inflação de serviços. Ele destaca que a difusão das altas também se manteve abaixo dos 60%, um indicativo de que as pressões generalizadas sobre os preços podem estar arrefecendo. Para Valério, embora o cenário sugira que não faz sentido elevar os juros no contexto atual, a desancoragem das expectativas inflacionárias nos últimos meses ainda pode pesar nas deliberações do Copom.
Outro ponto crucial levantado no artigo é o fato de que, mesmo entre economistas que previam uma alta dos juros, a nova realidade trazida pelo IPCA de agosto reforça a possibilidade de manutenção da Selic. Luis Otávio Leal, economista-chefe da G5 Partners, afirmou que a deflação alivia a pressão sobre o Banco Central, principalmente no que diz respeito a um aumento de 0,50 ponto percentual, anteriormente considerado por muitos. Ele, no entanto, lembra que o cenário não está completamente livre de preocupações, já que o acumulado de 12 meses dos “serviços subjacentes” subiu de 4,91% para 5,06% entre julho e agosto. Além disso, Leal menciona que a bandeira tarifária vermelha, que entrou em vigor em setembro, e as condições climáticas adversas devem impactar o próximo índice inflacionário, dificultando uma queda contínua da inflação.
Claudia Moreno, economista do C6 Bank, também compartilha dessa visão, destacando que a deflação do IPCA foi impulsionada principalmente pela queda dos preços da energia elétrica em agosto. Segundo Moreno, esse fator não deve se repetir nos meses seguintes, já que a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha 1 para setembro, o que deve elevar o custo das contas de luz e pressionar o índice inflacionário. Moreno e sua equipe projetam que o IPCA deve fechar o ano em 4,7%, acima do teto da meta de inflação. Para ela, há uma possibilidade de o Copom iniciar um ciclo breve de alta da Selic, mas a expectativa do banco é que a taxa permaneça em 10,5% até o final do ano, com cortes voltando a ocorrer em 2025, levando a Selic para 9%.
Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, acrescenta outra camada à discussão, afirmando que, embora espere uma alta de 0,25 ponto percentual na Selic na próxima reunião, ele não considera essa medida necessária. Cruz argumenta que os dados de inflação, embora preocupantes em alguns pontos, não justificam uma ação imediata por parte do Banco Central. Ele acredita que uma postura mais conservadora, mantendo os juros no patamar atual, seria mais adequada, já que o cenário externo está se tornando cada vez mais favorável, com bancos centrais de grandes economias globais cortando suas taxas de juros e os preços do petróleo em queda, o que pode aliviar pressões inflacionárias.
Além disso, André Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, reforça que o mercado financeiro está pressionando o Copom a aumentar os juros, mas reconhece que muitos analistas ainda acreditam que a manutenção da Selic seria a melhor decisão, considerando o IPCA em deflação e a redução das taxas de juros internacionais, como nos Estados Unidos e na Europa. Ele pondera que, com os juros já em um nível restritivo, qualquer aumento adicional deve ser cuidadosamente avaliado.
O economista Gustavo Sung, da Suno Research, traz à tona pontos adicionais que podem influenciar a decisão do Copom. Ele alerta para a possibilidade de pressões inflacionárias sobre os bens industriais, que podem ser impactados pela recente desvalorização cambial, além da elevação dos preços de energia com a bandeira vermelha 1 em vigor. Sung também menciona que o crescimento robusto da economia pode gerar pressões inflacionárias adicionais, dificultando a desaceleração dos preços. Ele prevê que o Copom iniciará um ajuste gradual da taxa de juros, com uma alta de 0,25 ponto percentual, levando a Selic para 11,25% até o final do ano.
Por fim, o texto de Roberto de Lira encerra com a análise de outros economistas que também veem na deflação do IPCA uma oportunidade para o Copom adotar uma postura mais cautelosa. Étore Sanchez, da Ativa Investimentos, avalia que a divulgação favorável do IPCA de agosto, somada ao cenário internacional mais benigno, mantém viva a possibilidade de manutenção da Selic. Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos, aponta que, embora não haja muito tempo para consolidar uma visão clara, seria estranho ver o Copom elevando os juros após a melhora no IPCA.
Andrea Damico, economista-chefe da Armor Capital, corrobora essa avaliação, destacando que o resultado de agosto mostra uma composição inflacionária de alta qualidade, especialmente no que diz respeito à inflação de serviços. Para ela, esse dado permite ao Banco Central refletir mais profundamente antes de tomar uma decisão sobre a elevação da taxa de juros. A conclusão é de que, embora existam pressões e argumentos em ambas as direções, a decisão do Copom será cuidadosamente ponderada, levando em conta os dados econômicos atuais e o cenário internacional em evolução.