Na visita que fez a Minas Gerais, o ex-presidente Lula reuniu as bancadas federal e estadual do PT para discutir a posição do partido nas eleições. Como resposta, ele ouviu que há um consenso entre os deputados de que o melhor caminho é apoiar formalmente a candidatura do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD) ao governo de Minas. Porém, os parlamentares discordam sobre quais são os termos aceitáveis para que a aliança seja concretizada.

Como vem mostrando O Tempo, o principal impasse é em relação ao candidato ao Senado. O PT tem como pré-candidato o deputado federal Reginaldo Lopes (PT), enquanto o PSD não abre mão de lançar o senador Alexandre Silveira (PSD) como candidato à reeleição.

Para fazer uma aliança formal com Kalil, o grupo de Lopes quer, no mínimo, um palanque duplo na chapa, cenário em que tanto Silveira quanto o petista manteriam as candidaturas. O senador do PSD não concorda com esse arranjo, pelo menos até o momento.

Integrantes do PT de Minas, no entanto, sustentam que o partido tem que se aliar com Kalil mesmo se as negociações não avançarem e Alexandre Silveira permanecer rejeitando a hipótese de palanque duplo. O Tempo apurou que o ex-governador Fernando Pimentel (PT) e o deputado estadual Virgílio Guimarães (PT) defendem essa posição.

“A ênfase, tanto minha como do governador Pimentel e de outras lideranças, foi dizer que devemos fazer a aliança completa e fazer campanha junto com o ex-prefeito Kalil”, disse Guimarães. Na visão dele, o PT poderia estar na chapa até como suplente de Silveira. “Pode, pode ser. (…) Amanhã (hoje) mesmo estarei na minha terra, em Curvelo, com o senador Alexandre”, afirmou o deputado estadual, indicando proximidade com Silveira.

A reportagem perguntou a Pimentel, por meio da assessoria de imprensa, se ele defende o apoio a Kalil mesmo se não houver um palanque duplo ao Senado. A resposta enviada foi um áudio de uma entrevista do ex-governador a uma rádio nesta semana em que Pimentel se limita a afirmar que Kalil é extremamente competitivo e que o ex-prefeito precisa de Lula, e vice-versa.

Ocupar a suplência de Silveira ou apoiá-lo para o Senado está longe de ser unanimidade no PT. O presidente do diretório estadual, Cristiano Silveira, tem outra visão. “Nossa posição, e penso que por ora é a de Gleisi (Hoffmann, presidente nacional do PT) e de Lula também, é que o PSD lance Alexandre Silveira e o PT lance Reginaldo Lopes”, disse. Confrontado com o fato de o senador do PSD resistir a aceitar esses termos, Cristiano respondeu: “Ainda há tempo. As tratativas vão continuar entre Gleisi e (Gilberto) Kassab, presidente do PSD, porque ainda há tempo até as convenções”.

Em entrevista, Gleisi disse que a posição de Silveira tem dificultado a aliança do PT com o PSD. “Vamos precisar sentar e conversar com o PSD, porque não pode ser uma chapa pura, todo mundo do PSD na chapa”, disse. O vice de Kalil será o presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus (PSD).

Já o deputado federal Rogério Correia (PT) considera que não é possível dar um “cheque em branco” e apoiar a candidatura de Silveira porque o PSD de Minas tem se aproximado do presidente Jair Bolsonaro (PL) e os quatro deputados federais da sigla são bolsonaristas. Por isso, o parlamentar considera que a bola está com o PSD, que precisa resolver a divisão interna.

“Nós não podemos fechar uma hipótese dessa (de apoio) do Alexandre Silveira com ele dizendo que poderá virar líder do Bolsonaro, com o PSD tensionando o tempo inteiro em favor do próprio Zema. Então tem que haver uma solução nacional do PSD que autorize o Kalil a fazer as negociações e não a equipe bolsonarista daqui”, afirmou. “Isso tem que ser resolvido primeiro”, disse Correia.