A recente declaração do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), de que apoiará um nome do PT para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU) gerou uma corrida entre os petistas por essa indicação. Em entrevista na última sexta-feira (1º), Lira confirmou que o partido solicitou apoio para um representante na corte, onde duas vagas estarão disponíveis até 2027.
Embora oficialmente não haja discussão interna avançada sobre possíveis indicados, membros do partido já especulam nomes para a vaga, que oferece um salário bruto de aproximadamente R$ 40 mil, além de gratificações. O desafio é escolher um candidato que conte com o respaldo do governo e o apoio dos congressistas.
O líder do PT na Câmara, Odair Cunha (MG), é apontado como um possível nome, sendo bem visto pelo centrão, mas sem proximidade pessoal com Lula. Por outro lado, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), possui estreito diálogo com o presidente, embora haja resistência entre parlamentares devido ao seu papel de liderança no partido. Caso seu nome seja o escolhido, Lula provavelmente precisará intervir diretamente.
Outras opções incluem ministros do governo, como Luiz Marinho (Trabalho) e Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário), cujos nomes também circulam nas discussões. As futuras vagas no TCU serão deixadas por Aroldo Cedraz e Augusto Nardes, que se aposentarão em 2026 e 2027, respectivamente, ao completarem 75 anos. Há articulações em andamento que buscam persuadir esses ministros a anteciparem suas aposentadorias, visando consolidar acordos de indicação.
Além de ter apoio do governo e dos votos no Congresso, o candidato à vaga deve cumprir certos requisitos técnicos e de idade. Muitos petistas avaliam que a escolha de um nome mais jovem, como o deputado Rubens Pereira Júnior (PT-MA), mestre em direito constitucional e com apenas 40 anos, pode enfrentar resistência, já que ocuparia o cargo até os 75 anos.
A posição de ministro do TCU é estratégica, pois envolve o monitoramento da gestão dos presidentes da República. Em 2015, o TCU reprovou as contas de Dilma Rousseff (PT), baseando o pedido de impeachment nas “pedaladas fiscais”. Além de supervisionar obras públicas, o TCU também regula processos de privatização e negociações bilionárias de contratos entre o governo e o setor privado.
O tribunal é composto por nove ministros: seis eleitos pelo Congresso, dois indicados pelo presidente entre os ministros substitutos e membros do Ministério Público junto ao TCU, e uma vaga de livre escolha do presidente da República, com aprovação do Senado. A distribuição dessas vagas costuma fazer parte das negociações para as presidências da Câmara e do Senado, além de ser influenciada por alianças em eleições e composições ministeriais.
Exemplos recentes ilustram a importância desses acordos. Em 2021, a escolha de Antonio Anastasia para o TCU foi parte da articulação que levou Rodrigo Pacheco (PSD-MG) à presidência do Senado e alçou Alexandre Silveira (PSD-MG) ao cargo de senador, como suplente de Anastasia. A negociação foi viabilizada pela saída antecipada do ex-ministro Raimundo Carreiro, que se aposentou para assumir a embaixada do Brasil em Portugal a convite de Jair Bolsonaro (PL).
Outro caso marcante ocorreu em 2011, quando a então ministra Ana Arraes foi eleita para o TCU graças ao apoio de seu filho, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, e de Lula. A negociação incluiu promessas de alianças do PSB em disputas municipais de 2012.
O líder do PT na Câmara reconhece que a promessa de uma vaga no TCU ao partido fez parte do acordo para apoiar Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara, mas nega que tenha sido o foco principal da negociação. Membros do partido recordam a importância de escolher um nome bem-visto pelos deputados, citando duas derrotas do PT em disputas anteriores pelo TCU.
Em 2005, o então deputado José Pimentel (PT-CE) foi derrotado por Augusto Nardes, atual ministro do TCU. No ano seguinte, Paulo Delgado (PT-MG) perdeu a vaga para Aroldo Cedraz. Esses episódios foram lembrados recentemente pelo líder do União Brasil, Elmar Nascimento (BA), como um alerta de que o apoio ao PT não garante eleição automática para o TCU, devido à votação secreta.
Foto: Gabriel Paiva