Com a rendição dos últimos soldados ucranianos em Mariupol, a Rússia conseguiu uma ligação por terra entre a Crimeia e os territórios separatistas que ela reconheceu como países independentes.

As forças lideradas por Vladimir Putin, porém, ainda estão longe do grande declarado objetivo estratégico, que era o de conquistar a totalidade desses territórios –a base industrial da Ucrânia.

Os russos queriam cercar, no leste da Ucrânia, a maior parte das forças militares ucranianas –coisa que até agora não conseguiram.

Uma batalha explica o que é, até aqui, um grande fracasso: foi a batalha do rio Seversky Donets, que nasce na Rússia, entra na Ucrânia e volta para a Rússia.

Para cercar os ucranianos, os russos tinham de transpor um obstáculo –o rio– o que é sempre uma delicada operação para qualquer exército ao longo de milênios de guerras.

O resultado, documentado por diversos tipos de imagens, foi uma catástrofe para os russos. Talvez a maior em um dia só de combates.

Sabendo que os russos estavam tentando atravessar o rio, os ucranianos concentraram a artilharia em alvos fáceis.

Os russos cometeram o erro básico de aglomerar tropas e blindados em um só lugar. E perderam só ali um batalhão tático inteiro, comprometendo as forças necessárias para a ofensiva destinada a cercar e aniquilar os ucranianos.

Digressão histórica: os russos ignoraram séculos de manuais de artes militares, no mínimo da idade média em diante, e abordados inclusive pelo estrategista Carl von Clausewitz, que assinalou a importância e, ao mesmo tempo, o perigo de operações de travessia de rios para qualquer ofensiva militar de qualquer exército.

O erro foi grosseiro e básico.

Tamanho desastre, que teria custado mais de 500 mortos aos russos em menos de duas horas, acabou sendo tema na própria Rússia.

Um dos mais renomados colunistas especializados em defesa na Rússia, o coronel Mikhail Khodaryonok, causou uma sensação internacional ao dizer alto e em palavras diretas que a guerra não está indo bem para a Rússia.

Durante um debate na teve estatal, o coronel Khodaryonok disse que a situação estratégica é ruim, geopolítica é pior ainda, com o mundo inteiro contra a Rússia, e que generais estão cometendo erros primários como esse da tentativa de cruzar o rio na Ucrânia.

O que não se sabe é se tipo de realismo chegou ao Kremlin. A grande ofensiva para engolir o leste da Ucrânia falhou, depois da ofensiva para tomar a capital do país, Kiev.

Porém, a ambição russa de tomar grande parte da vizinha Ucrânia não parece ter diminuído. O que diminuiu muito, talvez decisivamente, é a capacidade militar de alcançar essas ambições.