O economista e ex-ministro da Fazenda Maílson da Nóbrega disse que “o Brasil não aguenta mais 4 anos de Bolsonaro”. Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro (PL) é “um criador de crises”.

“Um presidente, para liderar um país, deve ser uma fonte de previsibilidade, uma fonte de segurança, um farol para sinalizar os passos futuros do país e do governo. Bolsonaro é um criador de crises”, declarou o ex-ministro do governo José Sarney ao jornal Correio Braziliense, em entrevista publicada nesta 2ª feira (8).

“Ele já demonstrou que não sabe governar, que não entende como funcionam as instituições, não tem o maior apreço pela liturgia do cargo. E, toda semana, tem uma declaração incrível”, falou. O economista disse que “tudo indica” que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve ganhar a eleição de outubro. “Bolsonaro tem tido uma capacidade impressionante de perder apoio”, afirmou.

Nóbrega falou que a avaliação da Tendências Consultoria, da qual é sócio, é de que o presidente “vai subir nas pesquisas” de intenção de voto enquanto os números do petista devem estagnar. Ainda assim, “dificilmente isso reverte o favoritismo de Lula”.

“O que pode acontecer é outra coisa: a gente acha que não decide no 1º turno”, falou. Questionado se Bolsonaro poderia reverter o cenário em eventual 2º turno, o ex-ministro disse que não. “Bolsonaro tem uma rejeição de mais de 60%. Nenhum presidente se elegeu no Brasil com mais de 40% de rejeição”, disse.

“O desafio dos 2, mas é mais do Bolsonaro do que do Lula, é reduzir a rejeição. A experiência mostra que a rejeição do candidato a presidente é um dos fatores mais determinantes do resultado das urnas”, continuou. “Acho que uma parcela expressiva de beneficiários do Auxílio Brasil vai votar no Lula.”

Democracia

Nóbrega declarou que o Brasil “tem instituições sólidas que são fundamentais para a preservação da democracia”, mas que elas estão sendo postas à prova.

“O Bolsonaro está prestando um serviço ao país nesse campo. Ele provocou e as instituições responderam”, falou. “Instituição é um conceito bem amplo. E, com essa mobilização de empresários, de acadêmicos, pessoal da área de ciência, de sindicatos, é uma coisa bem ampla. Tem efeitos de transbordamento, porque estimula outras pessoas a pensar até para se mobilizar.”

Economia

Segundo Nóbrega, o ministro Paulo Guedes (Economia) pensa que o Brasil tem uma situação fiscal sólida – algo que disse que “quem conhece o mínimo da área não concorda”. Ele classificou como “muito frágil” a situação orçamentária brasileira.

“O país pode desandar se não resolver o problema do ano fiscal”, afirmou. “O governo entrega uma situação fiscal com gasto em relação ao PIB [Produto Interno Bruto] um pouco menor por conta de manobras fiscais e não de um esforço para uma consolidação fiscal. O ministro Paulo Guedes vive em um mundo paralelo”, disse.

Essa diminuição dos gastos em relação ao PIB é, segundo o ex-ministro, causada por “3 anos sem reajuste de salário para funcionário público” e pelo “calote dos precatórios” –que “não entra na conta e ninguém mais está vendo”. Nóbrega disse respeitar Guedes.

“Foi uma pessoa razoavelmente bem sucedida no mercado financeiro, mas ele teve uma avaliação incorreta do papel de ministro do governo”, declarou. “Ele confundiu a quantidade com qualidade. Para ser poderoso, ele imaginou que o melhor era ter 5 ministérios sob seu comando”, continuou, acrescentando que Guedes “não foi capaz” de avaliar duas questões.

“A 1ª, as restrições para privatizar no Brasil. Os brasileiros não compraram a ideia de que Banco do Brasil e Petrobras podem ser privatizados”, falou. “A 2ª, ele parece ter comprado uma tese muito comum no mercado financeiro e em outras áreas de atividade econômica, que o relevante para um bom governo é o bom ministro da Fazenda. Mas quem é relevante é o presidente da República”, declarou. “Contudo, Bolsonaro não entende qual é o papel do presidente no sistema político.”

Sobre a inflação, o economista disse que “vai baixar por esse artifício dessa intervenção no federalismo [teto do ICMS sobre os combustíveis] que é absolutamente inconstitucional”. Segundo ele, “o Congresso fez vista grossa disso para beneficiar o Bolsonaro. É um alívio que tem tempo para terminar. Em janeiro, volta tudo”.