Em maio deste ano, a fonte de águas sulfurosas de Cambuquira ainda liberava alguns pingos, mas, com o passar do tempo e sem qualquer intervenção, a água cessou completamente. Ane Walsh, uma perfumista que utilizava a água da fonte para tratar problemas de pele, expressou sua frustração com a situação. “Faz muita falta. Tenho que buscar outros tipos de tratamento, sendo que dentro de casa tenho um recurso gratuito. O que me irrita é que temos o recurso, mas não podemos usá-lo porque parou”, desabafou Ane.
De acordo com informações fornecidas pelo Parque das Águas, as propriedades da água sulfurosa auxiliam não só no tratamento de pele, mas também no funcionamento do estômago e intestino. O engenheiro eletrônico Alexander Toledo, que também utiliza a água junto com sua família, comentou sobre a situação. “Essa água é muito usada para tratar problemas de pele. Nos últimos meses, ainda conseguíamos coletar um pouco, mas agora está completamente seca”, disse ele.
A ONG Nova Cambuquira, representada por sua presidente, Fernanda Brandão Louro, levantou um alerta sobre os impactos ambientais dessa perda. Ela destacou que a região possui uma rocha única, onde cada ponto gera uma água com minerais diferentes, essenciais para o tratamento de diversas doenças. “Cada fonte que perdemos é um problema grave, pois estamos deixando escapar um verdadeiro tesouro”, enfatizou Fernanda.
Moradores e frequentadores do Parque das Águas relatam que a fonte secou entre o final de agosto e o início de setembro, e a sujeira da fuligem, das queimadas e do tempo seco agora se acumula onde antes a água fluía. Essa não é a primeira vez que isso acontece. Em 2011, o volume da fonte também diminuiu e, no ano seguinte, parou completamente.
Alexander Toledo e outros visitantes temem pelo futuro das demais fontes da região. “Não estamos falando apenas de água para beber. As águas da Mantiqueira têm um valor muito mais profundo para nós, e muitas pessoas daqui têm o hábito de consumi-las diariamente”, ressaltou.
O doutor em Geografia do Cefet/MG, Wagner Francisco, acredita que a falta de chuvas pode estar influenciando na escassez da água, mas sugere que outros fatores devem ser considerados. Ele explicou que a irregularidade das chuvas, com grandes volumes concentrados em pouco tempo, reduz a capacidade de infiltração no solo, resultando em maior escoamento superficial. Segundo ele, chuvas mais bem distribuídas ao longo do ano garantiriam maior absorção pelo solo.
No entanto, Wagner alertou que apenas mais chuvas não resolveriam o problema. “A cobertura vegetal é crucial para aumentar a infiltração e alimentar os lençóis freáticos. As queimadas, incêndios florestais e o desmatamento são as principais causas desse desequilíbrio”, concluiu o especialista.
Foto: Reprodução EPTV