O prefeito de Belo Horizonte, Fuad Noman, faleceu nesta quarta-feira, 26 de março, aos 77 anos. Ele estava internado desde o dia 3 de janeiro no Hospital Mater Dei e enfrentava complicações decorrentes de um linfoma não-Hodgkin. No dia seguinte à internação, Fuad se licenciou oficialmente da Prefeitura. Com sua morte, o vice-prefeito Álvaro Damião (União Brasil) assume de forma definitiva o comando da capital mineira.

Na manhã desta quarta-feira, um boletim médico divulgado em horário incomum já havia sinalizado a gravidade do quadro. Segundo o informe, Fuad sofreu uma parada cardiorrespiratória na noite da terça-feira, 25, sendo reanimado pela equipe médica. No entanto, o quadro evoluiu para um choque cardiogênico, exigindo doses elevadas de drogas vasoativas e inotrópicas.

Fuad deixa a esposa, Mônica Drummond, os filhos Paulo Henrique e Gustavo, três irmãos — Lenita, Hélio e Márcia — e quatro netos.

Com trajetória diversa, Fuad foi militar, economista, servidor público e escritor. Serviu por 11 anos ao Exército Brasileiro antes de se dedicar à carreira civil. Tornou-se especialista em economia e participou da formulação do Plano Real na década de 1990. Também escreveu três livros: *O Amargo e o Doce* (2017), *Cobiça* (2020) — que gerou controvérsia durante as eleições de 2024 — e *Marcas do Passado* (2022). Preferia se intitular “escrevedor”, em tom de simplicidade.

Sua atuação na política começou discretamente, com cargos técnicos no governo federal e na administração estadual de Minas Gerais, sempre ligado à área econômica. Em 2017, foi convidado pelo então prefeito Alexandre Kalil para assumir a Secretaria Municipal da Fazenda. Ganhou notoriedade na gestão pública e, em 2020, aceitou o convite de Kalil para ser seu vice na tentativa de reeleição, chapa que saiu vitoriosa.

Com a renúncia de Kalil em março de 2022, Fuad assumiu a Prefeitura de Belo Horizonte, exercendo o mandato por dois anos e nove meses. Em 2024, já enfrentando o tratamento do câncer, decidiu disputar a reeleição. A candidatura foi sua primeira tentativa de liderar uma campanha política, enfrentando o desafio de se tornar mais conhecido pelo eleitorado. A escolha de Álvaro Damião como vice teve como objetivo ampliar o alcance da chapa e conectar diferentes perfis de eleitores.

Durante a pré-campanha, em 4 de julho de 2024, Fuad revelou publicamente o diagnóstico de linfoma e o início do tratamento com quimioterapia. Mesmo assim, afirmou que seguiria à frente da administração e da campanha. Ao lado da esposa, anunciou a cirurgia bem-sucedida e demonstrou disposição para seguir trabalhando. Em outubro, já no fim do segundo turno, informou que o câncer estava em remissão e o tratamento havia sido concluído.

Reeleito com 53,73% dos votos válidos, Fuad reassumiu o cargo em janeiro de 2025, mas permaneceu à frente da Prefeitura por apenas três dias antes de se afastar por recomendação médica. Ele enfrentava um novo quadro de pneumonia — o segundo em menos de um mês. Além disso, o fim de 2024 foi marcado por internações sucessivas para tratar neuropatia periférica, sinusite, diarreia e sangramento intestinal.

Desde novembro de 2024, Fuad limitou sua atuação pública a aparições remotas, com a saúde visivelmente debilitada. Foi diplomado por meio de um representante e participou da cerimônia de posse por videochamada, com imagem frágil e fala pausada. As restrições médicas e a baixa imunidade o impediram de frequentar ambientes com aglomeração.

Ao longo da internação, Fuad passou duas vezes por intubação na UTI do Hospital Mater Dei. Inicialmente, os boletins médicos indicaram melhora progressiva, incluindo momentos em que estava lúcido, orientado e sem necessidade de ventilação mecânica. No entanto, voltou a ser intubado em 9 de janeiro, sendo submetido a uma traqueostomia no dia seguinte. Os exames de reavaliação oncológica confirmaram que o câncer permanecia em remissão, mas o comprometimento respiratório seguia exigindo atenção intensa.

No fim de janeiro, Fuad teve alta da UTI e passou a receber cuidados no quarto. Os relatórios médicos relataram avanços em sua reabilitação motora, respiratória e neurológica. Ele passou a se alimentar por sonda e, apesar da fragilidade, respondia bem ao tratamento até a piora súbita no final de março.

O histórico de internações de Fuad teve início em 23 de novembro de 2024, quando ele foi hospitalizado com dores nas pernas, atribuídas à neuropatia periférica — uma possível sequela do tratamento contra o câncer. Antes disso, já havia realizado exames entre os dias 19 e 20 de novembro. Embora houvesse expectativa de alta no dia 24, ele permaneceu internado até o dia 28 para exames complementares.

No dia 7 de dezembro, foi novamente hospitalizado com pneumonia e sinusite. Após oito dias, recebeu alta, mas voltou a ser internado pouco depois com quadro de diarreia e desidratação. Chegou a ser monitorado na UTI em razão de um sangramento intestinal decorrente do uso de anticoagulantes. Após melhora, deixou o hospital em 23 de dezembro.

A última internação começou em 3 de janeiro de 2025, com diagnóstico de insuficiência respiratória aguda. Foi internado na UTI e, embora tenha apresentado leve melhora após dois dias, voltou a ser intubado no dia 9. A partir daí, a evolução clínica oscilou, com breves avanços e novas complicações, até a parada cardiorrespiratória da noite de 25 de março.

Fuad Noman deixa um legado de dedicação ao serviço público, marcado pela seriedade na gestão e pela defesa do equilíbrio fiscal. Mesmo em meio à batalha pela saúde, manteve o compromisso com a administração da cidade e os desafios de uma reeleição. A sua trajetória é lembrada por aliados e adversários como exemplo de integridade e competência.

Com sua morte, a Prefeitura de Belo Horizonte passa a ser oficialmente comandada por Álvaro Damião, que já vinha exercendo a função como interino. A cidade perde um gestor experiente, com forte atuação técnica e reconhecido pela serenidade diante das adversidades.

Fotos: Rodrigo Clemente/PBH


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