Em uma cerimônia marcada pela transição de comando e reflexões sobre o atual contexto político, o general Guido Amin Naves afirmou nesta terça-feira, 17, que o País vive “tempos incertos” e que o Exército é uma “instituição de Estado” que se pauta pela legalidade. A declaração ocorreu durante sua despedida do Comando Militar do Sudeste (CMSE), em São Paulo, que será assumido pelo general Pedro Celso Coelho Montenegro. Amin, que tem 43 anos de carreira, foi indicado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para o Superior Tribunal Militar (STM) e deve assumir a vaga em janeiro de 2025.
O pronunciamento do general não citou nomes ou fatos específicos, mas ocorreu em meio ao impacto da prisão do general Walter Braga Netto e ao avanço do inquérito sobre a tentativa de golpe. A investigação alcança outros militares de alta patente e coloca as Forças Armadas no centro de debates políticos e jurídicos. Guido Amin destacou sua preocupação com “os caminhos que as coisas vão tomar”.
“É preciso muita força de caráter, de ideal e coragem moral para tomar decisões nesse contexto. O Exército é uma instituição de Estado que preza pela legalidade e institucionalidade. A história é feita de saltos de maturidade, e vivemos um momento assim. Isso causa certa aflição, principalmente pela incompreensão de muitos”, afirmou Amin a jornalistas após a solenidade.
A cerimônia foi presidida pelo comandante do Exército, general Tomás Miguel Paiva, a quem Amin elogiou por sua liderança em “momentos desafiadores”. Amin ressaltou a resiliência e os acertos de Tomás Paiva na condução da Força: “Sou testemunha ocular do seu esforço e preocupação com a Força e com seus subordinados”. Durante seu discurso, fez referência direta às dificuldades enfrentadas pelas instituições militares diante do atual cenário político nacional.
Ao assumir o cargo no STM, Guido Amin participará do julgamento de processos que envolvem oficiais acusados de envolvimento no plano de golpe para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder. Entre as possíveis decisões está a cassão de patentes e a apuração de crimes militares, que se somam a crimes comuns em investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
O general Pedro Celso Coelho Montenegro, que assume o CMSE, terá como desafio liderar o comando regional em um momento de grande visibilidade e pressão para as Forças Armadas. A troca de comando reflete a necessidade de reafirmar o compromisso das instituições militares com a legalidade e a neutralidade institucional, conforme destacado por Guido Amin em suas palavras de despedida.
Com o avanço das investigações e a presença de oficiais no banco dos réus, o Exército busca demonstrar sua conduta como instituição apartidária. Para Guido Amin, a atual conjuntura representa um período de reflexão e amadurecimento da sociedade. “Esse processo não é simples, mas é necessário”, concluiu. O general encerrou seu discurso com a mensagem de que o Exército, como instituição de Estado, permanece fiel às leis e à democracia.
Foto: Roque de Sá/Agência Senado