O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está determinado a reorganizar a comunicação de seu governo a partir de 2025, buscando conter o avanço da extrema-direita nas redes sociais e melhorar a unificação do discurso oficial. A movimentação inclui a possível substituição de Paulo Pimenta, atual ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom), e é impulsionada pela forte influência da primeira-dama, Rosângela da Silva, a Janja. Apesar da pressão, a situação interna do PT é marcada por divergências.
Antes mesmo de passar por uma cirurgia de urgência em outubro de 2024, Lula já expressava insatisfação com a fragmentação da comunicação governamental. O presidente avaliava que a falta de uma linguagem coesa permitia que ministros e parlamentares divulgassem mensagens desencontradas. Essa situação ampliou o protagonismo de Janja, que, com autonomia crescente, passou a influenciar decisivamente as estratégias da Secom.
Em um episódio simbólico, Janja liderou, em janeiro de 2024, a produção de um vídeo em que ministros destacaram a importância da “Democracia“, aludindo à tentativa de golpe ocorrida um ano antes. A iniciativa foi finalizada sem o conhecimento prévio de Pimenta, evidenciando o descompasso entre as lideranças da comunicação. Esse movimento fortaleceu a percepção de que Lula precisa adotar uma postura mais firme na disputa pela narrativa política contra a extrema-direita, capitaneada pelo ex-presidente Jair Bolsonaro.
A vitória de Donald Trump nos Estados Unidos e a intensificação das ações bolsonaristas também aceleraram o diagnóstico de fragilidades na estratégia digital do governo. Segundo dirigentes do PT, Lula deveria recorrer mais frequentemente a pronunciamentos em rede nacional de rádio e televisão para destacar realizações do governo e relembrar a gravidade dos eventos de 8 de janeiro de 2023.
O desconforto de Lula com a comunicação ficou evidente no dia 15 de outubro, após receber alta do hospital Sírio Libanês. Questionado sobre a prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro de Bolsonaro e um dos principais nomes investigados no inquérito sobre o golpe, Lula criticou duramente a postura das Forças Armadas.
“Este País teve gente que fez 10% do que eles fizeram e foi morta na cadeia. Não é possível aceitar o desrespeito à democracia e ver militares de alta patente tramando contra a Constituição e o Estado Democrático de Direito”, declarou, classificando o governo de Bolsonaro como uma “praga de gafanhotos”. A declaração reforçou a necessidade de uma comunicação mais direta e combativa.
Nos bastidores, petistas defendem uma “ofensiva política” para enquadrar setores das Forças Armadas e criticam a permanência do ministro da Defesa, José Múcio Monteiro. Durante reunião do Diretório Nacional, em outubro, o PT voltou a exigir sua substituição, mas Lula descartou a mudança. “Múcio só sai se ele quiser”, afirmou o presidente, em defesa de seu ministro.
Um nome forte para a reestruturação da comunicação é o marqueteiro Sidônio Palmeira, responsável pela campanha presidencial de 2022 e pelo slogan “União e Reconstrução”. Sidônio, que também preparou o pronunciamento do ministro Fernando Haddad sobre o pacote fiscal, tem encontro marcado com Lula nos próximos dias. Ao contrário de setores do PT que defendem o embate polarizado, Sidônio aposta em uma comunicação mais equilibrada.
Apesar da pressão por mudanças, Lula resiste à ideia de recriar o cargo de porta-voz, função que ocupou lugar de destaque nos primeiros mandatos. No passado, o jornalista André Singer e o diplomata Marcelo Baumbach desempenharam esse papel. Atualmente, aliados defendem que a figura do porta-voz poderia blindar o presidente e evitar atritos internos entre ministros, além de prevenir erros, como o discurso de fevereiro, quando Lula comparou os ataques de Israel em Gaza ao Holocausto.
Ainda que reconheça as falhas na Secom, Lula não pretende abandonar Pimenta, que pode ser deslocado para outra função no governo. Deputado licenciado e figura de peso no PT, Pimenta admite as dificuldades enfrentadas pela comunicação oficial em um ano marcado por desastres climáticos e crises. “O presidente é autêntico e fala o que pensa. Concordo com ele sobre a importância de melhorar a comunicação”, disse o ministro, destacando sua liderança no enfrentamento às enchentes no Rio Grande do Sul.
A comunicação do governo também sofreu um abalo em setembro, quando a Secom precisou cancelar uma licitação de R$ 197,7 milhões voltada para serviços digitais. O processo foi suspenso pelo Tribunal de Contas da União (TCU) após suspeitas de vazamento das propostas.
Para o deputado Jilmar Tatto, secretário de Comunicação do PT, a mudança na comunicação é urgente. “É preciso que todos falem a mesma linguagem. O governo precisa acelerar suas entregas e organizar os palanques para 2026”, afirmou. Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) defendeu Pimenta, argumentando que a solução passa por fortalecer a estratégia política. “Quando as coisas não vão bem, não é só a comunicação que resolve”, ponderou.
O pano de fundo das mudanças envolve a pré-campanha para as eleições de 2026, com foco em ampliar a presença digital do governo e fortalecer a narrativa política contra a extrema-direita. A comunicação precisa ser estruturada para destacar as realizações do atual governo, combater a desinformação nas redes sociais e consolidar a imagem do PT como a principal alternativa para o eleitorado. Essa estratégia inclui tanto a construção de um discurso mais coeso quanto a organização dos palanques regionais, preparando o terreno para alianças que serão fundamentais no próximo ciclo eleitoral. quando o PT buscará consolidar seu projeto político. Seja Lula ou outro candidato, o partido precisa encontrar uma estratégia eficaz para competir com a extrema-direita no ambiente digital. Como destacou Lula em seminário do PT,
Foto: Pedro Kirilos