O governador de Santa Catarina, Jorginho Mello (PL), encerrou neste sábado (23) o 12º encontro do Consórcio de Integração Sul e Sudeste (Cosud) com um apelo por “paz para trabalhar”. Durante o evento, que reuniu representantes dos sete estados das regiões Sul e Sudeste, Mello destacou a importância de um ambiente político mais estável para o progresso do país.

“O Brasil precisa de paz para trabalhar. Neste tiroteio que a gente vive, não há condições. Precisamos de mais tranquilidade para render muito mais”, afirmou Mello, que é aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e um dos representantes da oposição ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Apesar disso, o governador evitou mencionar diretamente Bolsonaro, que recentemente foi indiciado pela Polícia Federal no inquérito sobre a tentativa de golpe após as eleições de 2022.

Em seu discurso, Mello enfatizou a necessidade de união para superar as adversidades. “Nunca vi uma discórdia construir nada. Confusão só destrói. Precisamos ser pontos de apoio e de sugestões para resolver as dificuldades. O Brasil precisa de nós“, completou.

A reunião do Cosud começou na quinta-feira (21) e contou com a participação de todos os governadores dos estados membros, exceto Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul, que está em viagem à Ásia e foi representado por Gabriel Souza (MDB). Governadores próximos a Bolsonaro, como Ratinho Junior (PSD), do Paraná, e Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, também participaram, mas evitaram comentar o indiciamento do ex-presidente.

Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, também esteve presente, mas deixou o evento sem conceder entrevistas. Nas redes sociais, Jorginho Mello publicou uma foto ao lado de Bolsonaro na sexta-feira (22), reafirmando seu compromisso com os valores alinhados ao ex-presidente.

O encontro resultou na divulgação da “Carta de Florianópolis”, documento oficial que sintetiza as decisões e diretrizes do evento. Um dos principais temas abordados foi a preocupação dos governadores com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Segurança Pública, apresentada pelo governo federal.

“A proposta compromete os princípios fundamentais do pacto federativo ao centralizar competências que historicamente pertencem aos estados, ignorando especificidades regionais e a autonomia que são pilares da nossa República”, diz um trecho do documento.

Outro tema relevante foi a renegociação da dívida dos estados com a União, com destaque para a busca por condições mais favoráveis no pagamento. Além disso, Santa Catarina e Paraná anunciaram um acordo relacionado a um processo judicial sobre royalties de petróleo, em disputa há mais de 30 anos no Supremo Tribunal Federal (STF). Pelo acordo, o Paraná repassará cerca de R$ 300 milhões em obras de infraestrutura para Santa Catarina, como forma de compensar royalties não pagos.

Essa disputa começou em 1986, com a projeção marítima das divisas estaduais realizada pelo IBGE. Em 1991, Santa Catarina questionou no STF o traçado, alegando que campos de petróleo haviam sido erroneamente excluídos das suas águas.

Outro anúncio significativo foi o início dos estudos para criar um banco de fomento regional, chamado Bancosud, que busca ampliar a capacidade de investimento conjunto dos estados do Sul e Sudeste em projetos de infraestrutura e desenvolvimento.

Renato Casagrande (PSB), governador do Espírito Santo e único integrante do Cosud próximo ao governo Lula, participou do evento, destacando a necessidade de diálogo entre os estados, independentemente de alinhamentos políticos.

A programação previa uma coletiva de imprensa no sábado, mas o compromisso foi cancelado devido a atrasos e à necessidade de alguns governadores cumprirem agendas em outros locais.

O Cosud, criado para fortalecer a integração regional e discutir pautas comuns aos estados das regiões Sul e Sudeste, continua sendo um espaço para articulações políticas e econômicas que vão além das diferenças partidárias. A próxima reunião do consórcio deve abordar o avanço das iniciativas discutidas em Santa Catarina, incluindo a PEC da Segurança Pública e a viabilidade do Bancosud.

O evento reforçou as tensões entre o governo federal e estados liderados pela oposição, mas também destacou a necessidade de cooperação para enfrentar desafios comuns. A ênfase no discurso de Jorginho Mello por estabilidade política e trabalho conjunto reflete o desejo de parte dos governadores em encontrar caminhos para fortalecer o pacto federativo e promover o desenvolvimento regional.

 

Foto: Cristiano Machado