A aposta da pré-campanha de Alexandre Kalil (PSD) é que a aliança com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) impulsione a votação do ex-prefeito de Belo Horizonte na disputa pelo governo de Minas Gerais. A história mostra, no entanto, que a transferência de votos não é simples nem automática.

Embora o PT tenha ganhado a eleição para a Presidência em quatro das últimas cinco vezes no Estado, o candidato a governador lançado ou apoiado pelo partido só saiu vencedor em uma ocasião. No caso, Fernando Pimentel, em 2014.

Desde as eleições de 2002, o candidato do PT ao governo de Minas teve, em média, 11 pontos percentuais menos no Estado do que o candidato a presidente. Porém, houve eleições em que parte da sigla em Minas, na prática, apoiou adversários. Foi o caso do voto “Lulécio”, em 2006, e também do “Dilmasia”, em 2010, movimentos realizados principalmente pelos prefeitos petistas da época.

Agora, aliados de Romeu Zema (Novo) tentam estimular o voto “Luzema”, principalmente em regiões onde o petista é mais popular, como é o caso do Norte, Noroeste e nos Vales do Jequitinhonha e Mucuri, conforme a pesquisa DataTempo realizada no início de maio. Kalil insistiu em uma aliança formal com Lula para tentar neutralizar esse movimento do atual governador.

“A aliança não assegura que todos os votos lulistas vão para o Kalil nem que todos os votos que o Kalil eventualmente tenha já consolidados vão pro Lula. Não é assim tão automático”, explica o cientista político da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) Paulo Roberto Leal.

Ele aponta que a transferência de votos PT-PSDB ocorreu em Minas mesmo quando os dois partidos eram adversários no plano nacional. Agora, como não há rivalidade entre PT e PSD, é ainda mais provável que a transferência de votos aconteça. “Era altamente provável que, mesmo sem uma aliança formal, houvesse um voto associado entre Lula e Kalil. Com a aliança formal, isso é potencializado, por exemplo, pela propaganda eleitoral no rádio e na TV”, afirma o especialista.

Cientista político da Universidade Federal de Minas Ferais (UFMG), Cristiano Rodrigues explica que, quando os candidatos concorrem a cargos diferentes, o eleitor procura o elo das duas candidaturas. “Quanto mais forte for o elo, maiores as chances de transferência de votos de um para o outro”, diz.

Ele avalia que o principal ganho que Lula leva para a campanha de Kalil é no interior. “Kalil, muito conhecido na região metropolitana, vai se beneficiar do fato de Lula ser conhecido no interior. Isso alavanca a campanha dele. Ele precisa produzir uma proximidade com o Lula neste momento para quando ele chegar nos palanques do interior dizer: ‘Eu e Lula somos semelhantes ideologicamente e realizamos governos competentes’, principalmente nas áreas de interesse da população”, afirma.

“Ao colar a candidatura dele no Lula, o Kalil entra em regiões que hoje o conhecem pouco, como no Norte”, acrescenta Leal.

Giro de aliado na campanha ajudará Lula

Tradicionalmente, numa aliança, o candidato menos popular leva mais vantagem do que o aliado que já é amplamente conhecido. Apesar disso, Lula também terá benefícios na aliança com Kalil.

“As pesquisas até o momento indicam vantagem do Lula em Minas. Mas a campanha eleitoral exige que você tenha uma estrutura organizada capaz de fazer circular os conteúdos e de estabelecer conexões com lideranças no nível local”, diz Leal, da UFJF.

Para Rodrigues, da UFMG, o ex-prefeito será muito útil a Lula, pois vai ajudar a levar o nome e as propostas do presidenciável pelo Estado inteiro, já que o petista não terá tempo de percorrer todas as regiões de Minas.