Diante do aumento da pressão política, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tem dado sinais de que pode ceder à insistente ofensiva do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e retirar Alexandre Silveira do comando do Ministério de Minas e Energia. Para evitar um desfecho imediato, Lula determinou que Silveira tente um acordo com o senador durante a viagem oficial à Rússia e à China. Ambos integram a comitiva presidencial, que permanecerá no exterior até a próxima terça-feira.
Nos bastidores, Lula vinha sendo um dos principais defensores de Silveira, inclusive com declarações públicas de apoio. Entretanto, o tom mudou. Segundo interlocutores do governo, o presidente deixou de rechaçar a possibilidade de demissão e agora reconhece que é insustentável manter um ministro em permanente conflito com o chefe do Senado.
Alcolumbre pressiona pela saída de Silveira desde o início do ano, quando reassumiu a presidência da Casa. Em reuniões reservadas, ele chegou a pedir pessoalmente a Lula a cabeça do ministro, acusando-o inclusive de corrupção em encontro com lideranças do União Brasil. À época, o presidente resistiu e elogiou Silveira. Em fevereiro, chegou a dizer que o ministro promovia uma “revolução” no setor energético.
O rompimento entre Alcolumbre, Silveira e o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) é recente, mas se agravou devido a desentendimentos sobre a divisão de poder no setor de energia. Os três foram aliados no início do governo e Alcolumbre foi um dos padrinhos da nomeação de Silveira. Com o tempo, porém, os senadores passaram a acusá-lo de desrespeitar os acordos firmados.
A disputa entre os dois ganhou novos contornos ao se conectar com uma guerra empresarial. De um lado, Carlos Suarez, conhecido como “rei do gás”, que disputa espaço com a Âmbar Energia, dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Suarez critica a aquisição de térmicas da Eletrobras na Amazônia pela Âmbar, alegando que a estatal Cigás, sob seu controle, não foi consultada.
Nos pleitos que levou a Lula, Alcolumbre também reivindicou influência sobre uma das cadeiras da diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Seu grupo defende o nome de Willamy Frota, ex-presidente da Amazonas Energia, que tem apoio do senador Eduardo Braga (MDB-AM). Silveira, por sua vez, tentou emplacar Gentil Nogueira de Sá Junior, seu secretário de Energia Elétrica, mas já admite nos bastidores que não tem força política para sustentar a indicação.
Esta não é a primeira tentativa de Lula de reconciliar os dois. Durante viagem ao Japão, no fim de março, quando Alcolumbre, Pacheco e Silveira também integraram a comitiva, o presidente tentou uma aproximação, mas a iniciativa fracassou. Agora, o cenário se repete, com um agravante: também estará na delegação o deputado Elmar Nascimento (União-BA), aliado de Alcolumbre e defensor dos interesses de Suarez no Congresso.
Aliados do ministro avaliam que a tensão cresceu significativamente. Silveira vê nesta viagem uma possível última chance de se manter no cargo. O recado de Lula para que ele busque um entendimento com Alcolumbre foi interpretado como um ultimato.
O presidente também está atento ao clima de desgaste no Senado, onde cresce a pressão contra o governo. Entre os sinais de alerta, está o pedido para instalar uma CPI mista sobre fraudes no INSS e a articulação de projetos que podem beneficiar envolvidos nos ataques de 8 de janeiro. A depender da evolução desse cenário, Lula pode não conseguir sustentar a permanência de Silveira por muito mais tempo.
Foto: Ricardo Stuckert/PR