Os constantes bombardeios de Israel contra a Faixa de Gaza, combinados com o colapso do sistema de saúde, a destruição de infraestruturas essenciais e as barreiras à assistência humanitária, têm devastado a vida dos palestinos. Segundo um relatório da organização Médicos Sem Fronteiras (MSF), divulgado nesta quinta-feira (19), essas ações configuram “limpeza étnica” e genocídio. O tom contundente da denúncia é raro, dado o compromisso histórico da MSF com a neutralidade em conflitos armados.
“As condições em Gaza são apocalípticas. Não há segurança, não há refúgio, e as pessoas não têm como escapar”, afirmou Christopher Lockyear, secretário-geral da MSF, que esteve na região. Desde o início do conflito entre Israel e Hamas, em outubro de 2023, mais de 45 mil pessoas foram mortas, de acordo com o Ministério da Saúde de Gaza. No entanto, a MSF alerta que o número real pode ser ainda maior, dado o impacto do sistema de saúde em colapso, surtos de doenças e a escassez severa de alimentos, água e abrigos.
A situação é agravada pela violência que atinge até os trabalhadores humanitários. Nos últimos 12 meses, as equipes da MSF enfrentaram 41 incidentes violentos, incluindo ataques aéreos, bombardeios e detenções arbitrárias por forças israelenses. Desde o início do conflito, pelo menos 330 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza, incluindo oito integrantes da MSF.
O relatório detalha o estado crítico do sistema de saúde em Gaza: menos da metade dos 36 hospitais ainda funciona, enquanto doenças crônicas e infecções respiratórias crescem devido à falta de vacinas e saneamento básico. Equipes da MSF relataram um aumento nos casos de doenças de pele, diarreia e infecções respiratórias, com a expectativa de piora durante o inverno no hemisfério norte.
O relatório da MSF aponta “sinais claros de limpeza étnica”, à medida que palestinos são forçados a abandonar suas casas, enfrentando deslocamentos massivos e bombardeios constantes. “As condições de vida em Gaza são impossíveis. O que testemunhamos ao longo deste conflito é consistente com o que especialistas legais e outras organizações definem como genocídio”, afirmou Lockyear.
A acusação da MSF ecoa relatório recente da Anistia Internacional, que também responsabiliza Israel por genocídio. A Convenção de Genocídio de 1948 define o crime como atos com a intenção de destruir total ou parcialmente um grupo nacional, étnico, racial ou religioso.
Israel nega as acusações e afirma que suas ações visam grupos terroristas, alegando esforços para minimizar danos a civis. No entanto, suas operações têm sido amplamente criticadas pela desproporcionalidade das ações militares.
Em janeiro, a Corte Internacional de Justiça (CIJ) determinou que Israel tome medidas para evitar genocídio no conflito com o Hamas, embora ainda não tenha emitido um julgamento definitivo. Já o Tribunal Penal Internacional (TPI) emitiu mandados de prisão contra o premiê israelense, Binyamin Netanyahu, e seu ex-ministro da Defesa, Yoav Gallant, por crimes de guerra e crimes contra a humanidade.
A guerra em Gaza continua, com um impacto devastador sobre a população palestina e crescentes apelos globais por justiça e uma solução humanitária urgente.
Foto: Eyad Baba