Entre os militares, cresce a expectativa de que os generais Augusto Heleno e Walter Braga Netto sejam os próximos alvos da Polícia Federal (PF) nas investigações sobre o suposto golpe de Estado tramado por aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro. Após a operação desta terça-feira (19), que resultou na prisão de um general reformado, três membros das Forças Especiais (os chamados “kids pretos”) e um policial federal, as atenções se voltam para os dois generais, apontados como coordenadores do plano.
A investigação, com mais de 200 páginas detalhadas, embasou a decisão do ministro Alexandre de Moraes e traz depoimentos e provas que ligam Heleno e Braga Netto às articulações golpistas. De acordo com oficiais que acompanham o caso, o plano envolvia desde codinomes e celulares descartáveis até armamentos pesados, como metralhadoras e bazucas. Os documentos indicam que o golpe só não foi adiante devido à oposição da maioria do Alto Comando do Exército.
Entre os envolvidos está o general reformado Mário Fernandes, que imprimiu documentos com detalhes do plano no Palácio do Planalto durante o governo Bolsonaro. Fernandes, ex-secretário-executivo da Presidência e ex-assessor de Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde, é visto como peça-chave na investigação. Já Luiz Eduardo Ramos, ex-ministro-chefe da Casa Civil, alegadamente não tinha conhecimento das ações de Fernandes. Após deixar o governo, Ramos permaneceu distante da política, viajando pela Europa.
Por outro lado, Braga Netto e Heleno têm adotado um perfil reservado desde o fim do governo Bolsonaro. Enquanto Braga Netto fez poucas aparições públicas, Heleno mantém-se recluso. Ambos, porém, aparecem nos depoimentos como líderes das articulações, ainda que o plano tenha sido frustrado por falta de apoio popular e pela hesitação do próprio Bolsonaro em ordenar sua execução.
Segundo as apurações, o ex-presidente esperava que manifestações populares massivas legitimassem o golpe, mas a adesão não ocorreu. Sem essa demonstração de força, Bolsonaro teria recuado, deixando o plano sem liderança direta. A conclusão das investigações aponta que, além da falta de coragem do ex-presidente, a oposição do Alto Comando do Exército foi decisiva para impedir a concretização da tentativa golpista.
Foto: Marcos Corrêa/PR