Depois de viver um mês de janeiro com o maior número de casos confirmados de COVID-19 até o momento, com quase 500 mil diagnósticos, Minas Gerais ainda terá em fevereiro seu maior pico de contaminações desde o início da pandemia.

A projeção da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG) é de que Belo Horizonte chegue ao ponto mais acentuado da curva de testes positivos justamente nesta semana, enquanto em outras regiões o auge de infecções é esperado nas próximas duas ou três semanas.

O infectologista Estevão Urbano, que integra o Comitê de Enfrentamento à doença na cidade, vê sinais de que a COVID-19 de fato esteja na crista da onda na capital, com base na evolução do índice que mede a velocidade de contaminações, o fator RT, mas ressalta, assim como a própria administração municipal, que não é possível determinar qual a situação da exata da curva neste momento.

No mês passado, o estado conviveu com alta média diária de mais de 15 mil casos, motivada pela rápida expansão da variante Ômicron, presente no Brasil desde meados de outubro. O pico de contaminações em Minas, por ora, ocorreu no dia 28, com mais de 40,7 mil notificações em 24 horas.

Por sua vez, nos dias 26, 27 e 29, a incidência também foi alta, acima dos 30 mil registros. A explosão de casos é vista pelos especialistas como consequência direta das aglomerações das festas de Natal e réveillon.

O infectologista e professor da Universidade Federal de Minas Gerais Geraldo Cury diz que a expansão de casos ocorre porque muitos infectados não se submetem aos testes: “Como temos muitos vacinados, as pessoas adquirem o vírus, não sentem nada nem fazem exame. Obviamente, não sabem se estão contaminadas e acabam passando o vírus para outros.

Os números reais são muito maiores do que os apresentados para nós. A Ômicron apresenta sintomas mais leves que a Delta, mas a enorme quantidade de pessoas infectadas pressiona o sistema de saúde. Em outros países, vimos que ela avançou muito rápido, mas caiu rápido também. Logo, espera-se que o índice de casos diminua com o tempo”.

Na semana passada, o secretário de Estado de Saúde, Fábio Baccheretti, afirmou que a vacinação em massa impediu uma grande catástrofe que poderia ter sido causada pela pandemia em Minas neste momento: “Estamos batendo recordes diariamente, acima de 30 mil casos, o que significa um aumento de incidência. Mas não aumentamos os óbitos na mesma proporção.

É algo (o número de casos) muito maior do que vivemos no pior momento da pandemia no ano passado, entre março e abril. As internações têm sido muito menores e os óbitos também. Tudo isso é graças à vacinação. Ainda temos leitos à disposição e por isso nos mantemos na onda verde”, disse, referindo-se ao Programa Minas Consciente, criado para orientar os municípios sobre a necessidade ou não de medidas restritivas.

Para efeito de comparação, Minas iniciou março do ano passado com um total de 883.105 casos confirmados para a COVID-19. Dois meses depois, em 30 de abril, o número de infectados já passava de 1,3 milhão, ou seja, com pouco mais de 476 mil testes positivos. Em janeiro de 2021, quando a expansão da doença já deixava o estado apreensivo, foram 187 mil contaminados.

Na semana passada, Baccheretti afirmou que Belo Horizonte atingiria o pico das contaminações pela Ômicron antes do restante do estado, justamente porque a variante apareceu na capital primeiro. Os primeiros registros ocorreram em meados de dezembro, quando o estado estava no controle de casos.

Geraldo Cury lembra que, mesmo que tenha efeitos mais leves, a variante pode causar mortes naqueles que não se imunizaram da forma correta: “Há um risco muito grande de uma pessoa vacinada espalhar o vírus para outra pessoa sem o ciclo vacinal completo. Logo, essas pessoas poderão ter casos mais graves da Ômicron”.

Assistência

Com a ocupação de leitos ainda numa fase de controle, o que causa mais preocupação para o estado no momento é a sobrecarga no sistema de saúde primário, que atende aos sintomas gripais. Além do alto número de profissionais afastados em virtude da expansão das contaminações, outro problema é o risco de falta de testes de COVID-19 e de medicamentos.

“O sistema de saúde não suporta essa pressão, ainda mais com aumento da demanda por medicamentos e testes. Os hospitais já vêm tendo dificuldades antes mesmo da pandemia, mas tudo se intensificou com a expansão de casos”, afirma Cury.

Testes

Minas Gerais apresenta uma redução de 60,4% no volume de testes realizados para COVID RT-PCR em relação à média móvel dos últimos 14 dias, de acordo com informação divulgada ontem pelo laboratório Hermes Pardini, o maior da capital mineira e que tem presença nacional.

Também a positividade começa a recuar, embora ainda represente mais da metade dos resultados. Como o agravamento dos casos costuma ocorrer de duas a três semanas depois do diagnóstico, o momento é de atenção, diz a infectologista da rede, Melissa Valentini.

”Iniciamos a semana em Minas Gerais com uma redução na procura de testes de RT-PCR. Ainda temos uma positividade de 57%, mas que está se reduzindo em relação aos últimos dias”, explicou Valentini.

Na avaliação dela, o índice aponta para a estabilização do pico epidêmico no estado. “Mas é importante lembrar que os quadros mais graves da COVID e os óbitos ocorrem de 14 a 20 dias após o diagnóstico. As próximas duas semanas precisam ser acompanhadas de perto”, afirmou.

Fonte: SES-MG