O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), liberou nesta terça-feira o relatório da Polícia Federal que indiciou o ex-presidente Jair Bolsonaro e mais 36 pessoas por envolvimento em um plano golpista para impedir a posse de Luiz Inácio Lula da Silva em 2022. Contudo, Moraes decidiu manter sob sigilo a delação premiada do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro.
Moraes justificou que, apesar de retirar o caráter sigiloso do relatório de mais de 800 páginas, a delação de Cid permanecerá confidencial devido à existência de diligências ainda em andamento e outras em fase de deliberação. Com a liberação do relatório, o material foi encaminhado à Procuradoria-Geral da República (PGR), que agora deverá decidir se apresenta denúncia contra os envolvidos, solicita novas investigações ou arquiva o caso.
A delação de Mauro Cid enfrentou questionamentos na semana passada, quando a Polícia Federal identificou inconsistências em seus depoimentos. Mesmo assim, Moraes validou o acordo de colaboração. Durante o depoimento, Cid confirmou a realização de uma reunião em 12 de novembro de 2022, no apartamento do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Defesa. Segundo a PF, o encontro marcou o início de um plano golpista que incluía o assassinato de Lula, Geraldo Alckmin e o próprio Moraes.
Apesar de detalhar a reunião na casa de Braga Netto, Cid negou envolvimento direto em qualquer plano de assassinato. Ele também afirmou desconhecer a existência de uma conspiração golpista que envolvesse ações tão extremas. Ainda assim, suas declarações reforçaram evidências contra Braga Netto, apontado como uma figura central nos esquemas investigados.
Braga Netto, que foi ministro da Casa Civil e da Defesa no governo Bolsonaro, além de candidato a vice-presidente na chapa de reeleição, é considerado pela PF um dos principais articuladores entre Bolsonaro e o grupo golpista. O relatório da Polícia Federal sugere que sua residência serviu como ponto de articulação para ações que visavam desestabilizar a democracia brasileira.
Com as investigações avançando, a delação de Mauro Cid e os detalhes revelados no relatório devem nortear os próximos passos da PGR e do STF na análise de um dos casos mais sensíveis para a política nacional.
Foto: Gustavo Moreno/STF