O escritor Olavo de Carvalho, guru bolsonarista, morreu na noite de segunda-feira (24), aos 74 anos, na região de Richmond, na Virgínia (EUA), onde estava hospitalizado.

A morte foi anunciada pela família nos perfis oficiais do escritor nas redes sociais. Foi também confirmada à Folha pelo cineasta Josias Teófilo, próximo a Olavo.

“A família agradece a todos os amigos as mensagens de solidariedade e pede orações pela alma do professor”, diz o comunicado divulgado na madrugada desta terça (25).

A causa da morte não foi informada. Já a filha do escritor Heloísa de Carvalho afirmou que o pai morreu em decorrência da Covid-19.

Rompida com o pai e detratora do presidente Bolsonaro, Heloísa escreveu em rede social que havia perdido uma amiga querida pela doença no mesmo dia em que Olavo havia dito que não havia uma morte causada pelo coronavírus no país.

O escrito sempre foi um dos principais porta-vozes em suas redes sociais dentre aqueles que contestam os dados sobre mortes e infectados pelo coronavírus, assim como Bolsonaro, símbolo do movimento negacionista no país.

“O medo de um suposto vírus mortífero não passa de historinha de terror para acovardar a população e fazê-la aceitar a escravidão como um presente de Papai Noel”, disse Olavo, por exemplo, em 2020.

Olavo recebeu o diagnóstico de Covid-19 no dia 15 de janeiro, segundo administradores do grupo do Telegram que reúne os seguidores do ideólogo bolsonarista.

A mensagem sobre o diagnóstico da doença foi compartilhada depois de Olavo ter cancelado por duas semanas consecutivas as lives que transmite para os assinantes pagos de seu curso online de filosofia.

O escritor deixa a mulher, Roxane, oito filhos e 18 netos.

Nascido em Campinas (SP) em 1947, interessou-se por filosofia desde a adolescência. Nunca teve uma carreira acadêmica formal, o que o levou a ser acusado por detratores, ao longo da vida, de não merecer ser chamado de filósofo.

A partir do momento em que se desiludiu com a esquerda, passou a dedicar-se à desconstrução do mais importante formulador do socialismo científico, Karl Marx.

A partir da segunda metade da década de 1990, os escritos de Olavo se tornam mais políticos, e seus livros ganham popularidade na medida em que a maré ideológica começa a virar para a direita.

A onda conservadora que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, em 2016, e à eleição de Bolsonaro dois anos depois, definiu Olavo como seu farol ideológico.

Olavismo, olavista e olavete passaram a ser termos de uso corrente, da mesma forma que lulismo ou malufismo já foram.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) publicou sua homenagem nas redes sociais. “Nos deixa hoje um dos maiores pensadores da história do nosso país, o filósofo e professor Olavo Luiz Pimentel de Carvalho. Olavo foi um gigante na luta pela liberdade e um farol para milhões de brasileiros”, escreveu.

O governo federal, por meio de uma nota assinada pela Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência) e pela Secretaria de Cultura, lamentou a morte de Olavo, a que chamou de “intransigente defensor da liberdade”.

O texto traz ainda citações do guru por nomes como Paulo Francis, Ives Gandra Martins e Jorge Amado. Em outros momentos, Olavo já havia citado que o autor baiano teria dito que ele tem “reconhecida competência na área da filosofia”.

Em dezembro, Olavo de Carvalho afirmou nas redes sociais que iria votar em Bolsonaro por falta de opção.

Antes aliado de primeira hora e tido como ideólogo do governo, o escritor se tornou crítico do presidente. Em recentes publicações, ele disse que Bolsonaro falhou na briga contra o que chama de comunismo.

Também pelas redes, Olavo afirmou no ano passado que Bolsonaro é o melhor candidato. “O problema é que, na situação calamitosa a que chegamos, isso não basta”, declarou.

Um dos filhos do presidente, o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos), também fez uma homenagem ao escritor.

“Grande foi a sua influência em nossas vidas, não apenas em política, mas também através de ensinamentos valorosos e inúmeras amizades geradas por convergência de valores. Muitas lições e até mesmo críticas (sempre com a melhor das intenções) nos ajudaram a refletir e crescer”, escreveu.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL), outro filho do presidente, disse que os ensinamentos de Olavo de Carvalho vão permanecer por muito tempo.

“Muito triste perder esse gigante. Nunca vamos esquecê-lo”, afirmou Arthur Weintraub, ex-assessor da presidência.

Fonte: Folha de São Paulo