O ministro da Defesa do Brasil, José Mucio Monteiro, apresentou ao presidente Lula (PT) uma proposta para tentar resolver o impasse sobre a compra de obuseiros da empresa israelense Elbit Systems. Inicialmente, o Exército brasileiro planejava adquirir 36 viaturas blindadas de obuseiro de 155 mm, mas a proposta de Mucio sugere que o Exército compre apenas duas unidades para testes. Caso o equipamento seja aprovado, o Brasil poderia ativar uma cláusula para a compra dos outros 34 obuseiros, com a condição de que a produção seja realizada no Brasil, gerando empregos no país.

A proposta de Mucio também envolveria a participação de empresas brasileiras, como Ares Aeroespacial e AEL Sistemas, e poderia criar cerca de 400 empregos diretos, ajudando a impulsionar a indústria de defesa nacional, um dos objetivos defendidos pelo governo de Lula. No entanto, essa proposta enfrenta resistência, tanto de membros do PT quanto de Celso Amorim, assessor de Lula para assuntos internacionais.

Em entrevista, José Mucio destacou que a oposição à compra dos equipamentos militares tem bases políticas e ideológicas. Ele afirmou que está defendendo a modernização do Exército brasileiro e negou que a compra dos obuseiros tenha qualquer relação com o financiamento de operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

Os críticos da transação argumentam que, ao adquirir equipamentos de um país envolvido em um conflito militar na Faixa de Gaza, o Brasil estaria indiretamente financiando esses ataques. A compra dos obuseiros, que custaria aproximadamente R$ 1 bilhão, gerou preocupações sobre a sua implicação nas operações israelenses.

Mucio minimizou essas preocupações, dizendo que “dois obuseiros não movimentam absolutamente nada” e que é um exagero associar a compra à guerra em Gaza. A assinatura do contrato para a aquisição foi adiada por decisão de Lula em maio, devido à escalada de operações militares de Israel na Faixa de Gaza.

O presidente Lula ouviu a proposta de Mucio, mas pediu mais tempo para decidir. Até o momento, a posição predominante no governo parece ser a defendida por Celso Amorim, que se opõe à compra por razões diplomáticas. Mucio, por outro lado, argumenta que as relações diplomáticas entre Brasil e Israel não devem ser afetadas por questões isoladas e que a compra de equipamentos militares visa fortalecer o Exército brasileiro.

Além disso, o Tribunal de Contas da União (TCU) foi consultado pela Defesa para esclarecer se a legislação brasileira proíbe a participação em licitações de empresas localizadas em países envolvidos em conflitos armados. A expectativa é que o TCU confirme que não há restrições desse tipo, o que poderia ajudar a destravar a compra dos obuseiros.

O Exército brasileiro começou o processo de licitação para a compra dos 36 obuseiros em 2017, com o objetivo de modernizar seu arsenal. Muitos dos obuseiros usados atualmente pelo Brasil são da Segunda Guerra Mundial (1939-1945). A licitação entrou na fase final há cerca de dois anos, com a participação de empresas de Israel, França, China e Eslováquia. A empresa israelense Elbit Systems venceu a concorrência devido a sua vantagem técnica e de menor preço.

Militares envolvidos no processo destacaram que a Elbit Systems possui subsidiárias no Brasil, o que garante capacidade de produção de munição e suporte logístico local. O contrato teria uma duração de aproximadamente oito anos, com entregas e pagamentos escalonados ao longo do período.

O Exército brasileiro pretende substituir cerca de 300 obuseiros antigos pelos novos equipamentos. Com o impasse no governo, a expectativa é que uma solução seja encontrada entre José Mucio e Celso Amorim para finalizar a compra e garantir a modernização das Forças Armadas brasileiras.

 


Avatar

administrator