O presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, em discurso na Assembleia Geral da ONU nesta quarta-feira (25), criticou as propostas de paz apresentadas por Brasil e China para a guerra na Ucrânia. Zelensky destacou que a fórmula para o fim do conflito precisa ser clara e completa, sem concessões que possam beneficiar a Rússia.
“Precisamos ser claros: a guerra deve acabar. Essa é a verdadeira fórmula da paz. Qualquer parte desta fórmula que seja inaceitável para quem defende a Carta da ONU revela que esses atores estão escondendo o desejo de fazer parte do que Putin está fazendo”, afirmou o presidente ucraniano.
Zelensky também expressou desconfiança em relação às intenções de Brasil e China, que têm promovido conversas alternativas de paz. “Quando a dupla chinesa-brasileira tenta angariar vozes, seja na Europa ou na África, sugerindo alternativas a uma paz plena e justa, fica a pergunta: qual é o verdadeiro interesse por trás disso?“, questionou o líder ucraniano.
O presidente da Ucrânia enfatizou que nenhum país deveria buscar aumentar seu poder às custas de sua nação. Segundo ele, o mundo já superou as eras das guerras coloniais e das conspirações de grandes potências, e esse tipo de abordagem não pode ser revivido em conflitos modernos, como o da Ucrânia.
Zelensky reiterou seu pedido por uma paz justa e real para o povo ucraniano, alertando para os perigos de divisões no cenário global. “Nós não dividimos o mundo, e peço o mesmo a todos vocês. Sejam verdadeiramente Nações Unidas, e isso trará a paz”, concluiu.
Enquanto isso, o Brasil e a China se preparam para retomar conversas sobre sua proposta de paz em uma reunião marcada para sexta-feira (27), em Nova York. O encontro será coordenado pelo assessor especial da Presidência brasileira, embaixador Celso Amorim, e reunirá 20 países do Sul Global.
O objetivo é discutir os seis pontos da proposta de paz, apresentada em maio, que inclui o início de negociações de cessar-fogo entre Ucrânia e Rússia. A proposta também pede o não aumento dos combates e a proteção de civis e infraestruturas essenciais, além da realização de uma conferência internacional de paz com o apoio de ambos os lados.
Entre os países convidados para a reunião estão África do Sul, Egito, Indonésia, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Vietnã, Etiópia, Nigéria, Colômbia, México, Malásia, Argélia e Quênia. O encontro, no entanto, será restrito aos países do Sul Global, deixando de fora, desta vez, os europeus, que têm apoiado amplamente a Ucrânia.
Recentemente, o presidente russo, Vladimir Putin, reforçou a possibilidade de mediação por parte de Brasil e China, mencionando também a Índia como possível parceira nesse processo. A proposta original foi divulgada após uma visita de Celso Amorim à China, mas foi rejeitada por Zelensky, que critica a falta de clareza em relação aos interesses desses países no conflito.
A proposta de seis pontos ainda não avançou desde sua apresentação, mas o Brasil espera que a reunião em Nova York possa gerar uma nova “massa crítica” para revisar e avançar nas negociações de paz.