A organização não governamental Conservação Internacional (CI) desenvolveu uma nova ferramenta de inteligência artificial para identificar áreas prioritárias de restauração florestal em todo o território brasileiro. Batizada de Ciera — sigla em inglês para Assistente de Restauração de Ecossistemas da Conservação Internacional —, a plataforma estará disponível gratuitamente a partir do segundo semestre deste ano, com o objetivo de facilitar decisões estratégicas sobre o reflorestamento de vegetação nativa.

De acordo com Luciana Pugliese, diretora de Restauração de Paisagens e Florestas da CI Brasil, a Ciera foi criada para atender à crescente demanda por uma solução capaz de integrar dados técnicos, exigências legais e informações financeiras sobre a recuperação ambiental. “O objetivo é tornar a restauração mais acessível e colaborativa, permitindo que diferentes atores — desde gestores públicos até proprietários rurais — participem da decisão sobre os locais mais adequados para restaurar”, afirma.

A plataforma é fruto de uma cooperação internacional envolvendo especialistas brasileiros e norte-americanos da CI, com apoio de universidades e empresas de tecnologia. Utilizando métodos avançados de leitura e interpretação automática de dados, a Ciera cruza informações de múltiplas fontes para oferecer diagnósticos e recomendações customizadas.

No processo de construção da ferramenta, os cientistas reuniram dados geoespaciais e legislações ambientais brasileiras, como o Plano Nacional de Recuperação da Vegetação Nativa (Planaveg), lançado em outubro de 2023 durante a 16ª Conferência das Partes da ONU para a Biodiversidade (COP16), na Colômbia. Esse plano reforça o compromisso internacional do Brasil de restaurar 12 milhões de hectares de vegetação nativa até 2030.

Conforme levantamento do Observatório da Restauração e Reflorestamento, o país já recuperou 153,14 mil hectares de vegetação nativa e contabiliza 8,76 milhões de hectares reflorestados. No entanto, segundo o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, o passivo ambiental para cumprimento do Código Florestal (Lei nº 12.651/2012) é de 25 milhões de hectares, que ainda precisam ser restaurados.

A Ciera foi projetada para atender diferentes perfis de usuários, desde pequenos proprietários rurais até representantes de governos estaduais e municipais. “Se um governo estadual quiser focar na restauração de regiões com grande número de imóveis em débito com Áreas de Preservação Permanente (APP), reserva legal ou Código Florestal, a Ciera permite identificar essas regiões e selecionar as mais promissoras para obter bons resultados”, explica Luciana.

Além de indicar onde restaurar, a ferramenta também orienta sobre a metodologia ideal, espécies nativas recomendadas para o plantio e os custos estimados do projeto. O sistema ainda ajuda a esclarecer dúvidas operacionais ao longo da execução, funcionando como um suporte contínuo.

A base de dados da Ciera se atualiza automaticamente por meio de técnicas de aprendizado de máquina (machine learning), que tornam a ferramenta mais precisa à medida que novos projetos e informações são adicionados. “A ideia é que, conforme a plataforma seja utilizada por diferentes agentes em diversos contextos, ela aprimore sua capacidade de diagnóstico e recomendação”, afirma Luciana.

O reconhecimento internacional da Ciera veio com a vitória no desafio global Hack4Good 3.0, realizado em março na cidade de Seattle, nos Estados Unidos. A competição destacou inovações tecnológicas com impacto positivo no meio ambiente e na sociedade, e a plataforma da CI foi considerada uma das soluções mais promissoras.

Luciana Pugliese estima que, dentro de três meses, a Ciera estará completamente consolidada e pronta para uso em larga escala. “Nosso objetivo é oferecer uma ferramenta robusta, confiável e gratuita, para que proprietários de terras e formuladores de políticas públicas tenham à disposição uma aliada poderosa na missão de restaurar os ecossistemas brasileiros”, conclui.

Foto: Symbiosis/ Divulgação


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