O PSDB atravessa uma crise de âmbito nacional, com crescente descontentamento entre filiados e a ameaça de desfiliações em massa prevista para 2025. O partido, que já foi um dos principais protagonistas do cenário político brasileiro, enfrenta uma queda contínua de filiados desde 2020 e sofre impactos significativos na sua imagem, agravados pelos escândalos de corrupção envolvendo o deputado Aécio Neves.
A saída de Tião Farias, um dos fundadores da sigla, na semana passada, desencadeou uma movimentação dentro do partido que vai além de São Paulo. Segundo relatos, dissidentes em diversas regiões do país têm articulado a migração de grupos inteiros de filiados, insatisfeitos com as atuais lideranças e o desgaste da legenda. Em São Paulo, o número de filiados caiu de 301.173 em 2020 para 275.516 neste ano. No restante do país, a tendência é semelhante, com perda de força especialmente em redutos históricos como Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul.
Entre os dissidentes, a possibilidade de formação de uma nova legenda está no radar, mas a prioridade tem sido organizar desfiliações e migrações para partidos como MDB e PSD. Em São Paulo, o movimento conhecido como “tucanos com Nunes” já sinalizou aproximação com o MDB, que estaria preparado para receber os descontentes. Em Minas Gerais, o desgaste do partido é ainda maior, devido aos processos de corrupção envolvendo Aécio Neves, o que provocou debandadas em suas bases eleitorais tradicionais.
Fernando Alfredo, ex-dirigente municipal do PSDB expulso após apoiar o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo, afirmou que falta ao país uma legenda “de fato social-democrata” e criticou as direções nacional e estaduais pela desconexão com as demandas da base.
Apesar do clima de instabilidade, as lideranças do PSDB mantêm o discurso de confiança na recuperação. Marconi Perillo, presidente nacional do partido, afirmou que a ameaça de desfiliação não passa de especulação. Em sua visão, o partido está focado em reorganizar sua estrutura e construir alianças para 2026. “Estamos cientes da necessidade de novas federações e talvez até incorporações, mas seguimos otimistas”, declarou.
Em Minas Gerais, Paraná e no Nordeste, líderes estaduais minimizam o impacto das desfiliações, mas reconhecem que a legenda precisa reconquistar credibilidade após os episódios que abalaram sua imagem pública. O deputado estadual Vinícius Camarinha (PSDB-SP) criticou os dissidentes: “Tem gente que esteve no partido por 30 anos e, na primeira dificuldade, abandona a sigla? Precisamos de mais compromisso.”
A crise atual, entretanto, é profunda e reflete uma perda de relevância política e eleitoral do PSDB em todo o Brasil. Além da concorrência com partidos de centro como MDB e PSD, os escândalos envolvendo lideranças históricas, como Aécio Neves, e a dificuldade em se posicionar como uma força renovada no cenário nacional aumentam os desafios do partido.
Com as eleições de 2026 no horizonte, o PSDB busca redefinir sua estratégia para evitar novas perdas e consolidar uma base que possa manter o partido competitivo. Contudo, com o crescente descontentamento interno e o impacto dos escândalos, a sigla enfrenta um dos momentos mais delicados de sua história.
Foto: Marina Ramos / Câmara dos Deputados