O presidente da Rússia, Vladimir Putin, afirmou nesta segunda-feira que as forças russas avançaram significativamente na guerra contra a Ucrânia em 2024, consolidando o controle de 189 localidades e cerca de 4.500 km² de território. Putin destacou que o ano foi um “marco” no cumprimento dos objetivos da chamada “operação militar especial”, termo usado por Moscou para se referir à guerra.
A declaração foi feita no mesmo dia em que a União Europeia (UE) aprovou novas sanções contra Moscou por suas ações desestabilizadoras na Europa, aumentando o isolamento do Kremlin.
De acordo com o ministro da Defesa russo, Andrey Belousov, as tropas russas tomaram quase 30 km² por dia ao longo de 2024. Ele afirmou que a Ucrânia mantém controle sobre menos de 1% da região de Lugansk e entre 25% e 30% dos territórios em Donetsk, Kherson e Zaporíjia. Apesar das alegações de conquistas, a Rússia ainda não controla totalmente as regiões que anexou unilateralmente em 2022.
Enquanto Putin comemorava os avanços, ele evitou comentar as baixas militares russas. Estimativas ocidentais indicam que ao menos 700 mil soldados russos foram mortos ou feridos desde o início do conflito, em fevereiro de 2022.
Putin também acusou o Ocidente de cruzar as “linhas vermelhas” da Rússia, referindo-se ao desenvolvimento de mísseis de curto e médio alcance pelos Estados Unidos. O presidente ameaçou retirar restrições ao uso de mísseis russos caso os EUA prossigam com a implementação de tais armas.
Os Estados Unidos autorizaram, em novembro, o uso de mísseis ATACMS pela Ucrânia contra alvos no interior da Rússia, uma decisão que aumentou a tensão no conflito. Esses mísseis, com alcance de até 300 km, eram anteriormente limitados a operações dentro da Ucrânia. A mudança ocorreu após relatos de que tropas da Coreia do Norte estariam reforçando as forças russas.
Em resposta, Putin ameaçou usar o míssil hipersônico russo Oreshnik, capaz de transportar ogivas nucleares, para atingir centros de decisão estratégicos em Kiev e nos países que apoiam militarmente a Ucrânia.
A possível mudança na política dos Estados Unidos com a posse de Donald Trump preocupa aliados da Ucrânia. Durante sua campanha, Trump criticou o envio de armas a Kiev, mas também indicou que não abandonaria completamente o país. Ele prometeu buscar um acordo negociado entre Putin e o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, sugerindo que ceder territórios ocupados poderia ser uma saída para encerrar o conflito.
O presidente eleito afirmou diversas vezes que, sob sua liderança, a guerra não teria começado e prometeu encerrar o conflito “em 24 horas”. A incerteza sobre sua política para a Ucrânia está pressionando aliados da Otan, que buscam fortalecer Zelensky antes da posse de Trump.
Atualmente, a Rússia controla cerca de 18% do território ucraniano reconhecido internacionalmente, incluindo a Península da Crimeia, anexada em 2014. Na cúpula da Otan em julho, os 32 países membros reafirmaram o compromisso de integrar a Ucrânia à aliança, mas não definiram prazos.
A adesão da Ucrânia à Otan enfrenta um obstáculo significativo: a organização não aceita membros com disputas territoriais ativas, devido ao Artigo 5º de sua carta, que exige defesa mútua em caso de ataque.
Enquanto a guerra avança, a UE anunciou um pacote de sanções contra a Rússia, mirando 16 indivíduos e três entidades acusadas de atividades desestabilizadoras na Europa. Entre os alvos estão o grupo de inteligência militar russo GRU29155, responsabilizado por ataques como o envenenamento de Sergei Skripal no Reino Unido, em 2018, e explosões de depósitos de munições na República Tcheca.
Também foram sancionadas a agência de notícias African Initiative e o Grupo Pan-Africano para o Comércio e Investimentos, descritos como ferramentas de desinformação pró-Rússia no continente africano.
O bloco europeu reiterou que essas sanções visam enfraquecer a capacidade russa de continuar a guerra na Ucrânia e impedir a propagação de sua influência desestabilizadora no cenário internacional.
As declarações de Putin refletem uma narrativa de fortalecimento militar e estratégico, mas o avanço russo continua enfrentando forte resistência ucraniana e pressão internacional. Com o cenário político americano prestes a mudar, o conflito pode tomar novos rumos em 2025, enquanto a guerra permanece como o maior desafio geopolítico do mundo atualmente.
Foto: Valery Sharifulin