O presidente do STF, Luís Roberto Barroso, foi alvo de críticas dos atingidos pelo desastre de Mariana (MG) após dizer que os R$ 170 bilhões do acordo de reparação seriam suficientes “para passar um bom fim de semana“. A declaração ocorreu na sessão desta quarta-feira (6), que homologou o acordo entre mineradoras e governos.

Na ocasião, Barroso explicou que não avaliou o mérito do acordo devido à adesão voluntária das partes. “Portanto, quem estiver satisfeito adere, quem não estiver satisfeito vai brigar por conta própria”, disse o ministro, defendendo que o acordo “me pareceu uma boa solução”.

Ele ainda acrescentou: “E achei que o volume de recursos que as empresas se dispuseram a aportar, ministro [Cristiano] Zanin, foi um volume muito relevante. R$ 170 bilhões não é pouca coisa, dá para passar um bom fim de semana”, afirmou, rindo. “Acho que foi um número muito expressivo de uma negociação árdua.”

O desastre de Mariana, causado pelo rompimento da barragem de Fundão da Samarco, resultou na morte de 19 pessoas e na liberação de 43,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos no meio ambiente.

Monica Santos, 39, assessora técnica que perdeu sua casa em Bento Rodrigues (MG) durante a tragédia, criticou a fala de Barroso: “Pelo cargo que ele ocupa, ele jamais poderia ter feito uma declaração dessas. Ele jamais teria que ter homologado o acordo sem conhecer nossa realidade”, afirmou. “O acordo não levou em consideração tudo o que a gente vem passando nesses nove anos. Minha família continua sem casa e sem indenização. Quem decide sobre nossa vida nem sequer nos ouviu.”

Outro atingido, Edertone José da Silva, 57, empresário de Governador Valadares (MG), lamentou o tom usado por Barroso. “Foi irônico e insensível até com a dor das pessoas, porque ele não conhece nossa realidade aqui.” Edertone, que perdeu sua empresa de extração de areia após o desastre, rejeita o acordo de indenização firmado no Brasil e é representado pelo escritório britânico Pogust Goodhead em uma ação no Reino Unido.

O STF, em nota, afirmou que Barroso não se referia diretamente às vítimas e citou sua declaração ao final do julgamento: “Queria, em nome do tribunal, mandar uma mensagem de carinho e de solidariedade às vítimas do acidente do rompimento da barragem do Fundão em Mariana, Minas Gerais. Pessoas que perderam suas casas, seus pertences e suas memórias, eu diria. Dinheiro, por evidente, não é suficiente para construir tudo ou reconstruir tudo o que se perdeu, mas é muitas vezes a compensação possível. É o máximo que a gente pode fazer a essa altura.”

Foto: Rogério Alves/TV Senado


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