A recusa inédita de um deputado em assumir um ministério, mesmo após ser anunciado publicamente, revelou a fragilidade da liderança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e evidenciou o cenário de “faz de conta” na relação entre o governo e o Centrão. Segundo analistas, esse quadro é reflexo da perda de força do Executivo diante do aumento do poder parlamentar sobre o Orçamento.

Apesar dos frequentes jantares de Lula com líderes partidários, muitos deputados e senadores apenas simulam apoio ao governo. O Planalto, por sua vez, finge acreditar nesse apoio, já que precisa do Congresso para garantir a mínima governabilidade.

Embora demonstrem resistência em ocupar ministérios, os políticos não querem abrir mão da influência que exercem sobre as pastas. Essa nova dinâmica ficou explícita na atuação do presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), que, para solucionar o impasse, indicou um nome técnico para o Ministério das Comunicações, embora sob forte influência política.

O governo poderia adotar essa estratégia e solicitar que outros partidos também apresentem indicações técnicas para concretizar a reforma ministerial. Com o espaço político nas pastas sendo menos atraente, abre-se uma oportunidade para a valorização de perfis técnicos, o que, de certa forma, poderia beneficiar a administração pública.

A decisão do líder do União Brasil na Câmara, Pedro Lucas Fernandes (MA), de rejeitar o convite para o ministério e permanecer no comando de sua bancada reforça a percepção de que, atualmente, é mais vantajoso manter o controle partidário no Legislativo do que migrar para o Executivo. Dependendo do ministério, abrir mão da liderança pode significar perda de espaço político.

Nos governos anteriores de Lula, o Executivo detinha maior poder sobre a destinação dos recursos orçamentários. Atualmente, com o fortalecimento das emendas impositivas — que obrigam o governo a pagar verbas indicadas pelo Congresso —, os parlamentares se tornaram menos dependentes do Planalto. Hoje, lobistas preferem negociar diretamente com deputados e senadores em vez de recorrer aos ministérios.

A permanência do Ministério das Comunicações sob o comando do União Brasil, mesmo após o episódio considerado vexatório para o governo, evidencia ainda mais a dependência do Executivo em relação ao Legislativo.

Nesse contexto, a avaliação é de que o governo Lula só conseguirá aprovar propostas que contem com amplo consenso parlamentar. Se o Planalto não mudar sua postura e não priorizar a pauta defendida pela maioria do Congresso, corre o risco de ficar paralisado, sem capacidade de obter votos suficientes para avançar seus projetos.

 

Foto: Wilson Junior

 


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