Por Geraldo Elísio (Repórter)

Dia 22 de novembro de 2021 em conversa com admiradores no “cercadinho” em frente ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro comentou sobre a possibilidade difícil do modelo educacional de Hitler ser aplicado no Brasil. Entre vários temas o presidente deixou escapar, o líder alemão se dedicava muito às crianças, admitindo isto poderia ser feito no Brasil.

E como não poderia ser diferente, criticou a imprensa por suas atividades. Rudá Ricci em livro que aborda o tema ao abordar tão explosiva questão lembra na década de 1990, Bolsonaro defendeu 84 alunos do Colégio Militar de Porto Alegre que, em 95 escolheram Her Adolf como a personagem histórica mais admirada entre um total de 158 formandos. Argumento dele: a liberdade de expressão.

Trata-se do livro Fascismo Brasileiro – E o Brasil gerou o ovo da serpente, com prefácio de Luís Carlos Petry, filósofo, psicanalista e professor emérito da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Tratasse de expressivo retrato a falar de posições radicais e contrárias à democracia, acrescentando a necessidade de ordem e disciplina como marcas de conduta social. Para isto se referiu às ligações com Trump, extremistas da AltRight, KuKluxKlan e partidários internacionais de tal monta. Provavelmente uma simples coincidência. Porém é lógico, Olavo de Carvalho, já falecido, também foi citado.

Nas suas 200 páginas o livro de Rudá, se formos sintetizá-lo fala de abordagem onde o nazismo surge como “um modelo a ser seguido”, porém sem dar maior trato à participação das FFAA brasileiras quando da Segunda Guerra Mundial e outros episódios históricos. De forma rápida ele se disse contrário às violências hitlerianas.

Creio igualmente que por coincidência o ex-secretário especial de Cultura, Roberto Alvim, chegou mesmo a citar trechos do ex-ministro da Propaganda de Hitler, Joseph Goebbels, ao trazer futuras questões nacionais brasileiras.

É um livro importante e que exige uma leitura minuciosa, não podendo a observação desse artigo se transformar em síntese do trabalho de Ricci, porém trata-se um indicativo ligeiro de assuntos abordados em suas páginas. Sobram críticas à imprensa nacional, acima do golpe de 1964.

Adriana Dias, antropóloga da Unicampi nas páginas do trabalho, é mencionada como identificadora de antigas relações de Bolsonaro com nazistas brasileiros e de ultramar. Sobram indícios de uma busca permanente da conquista sobre a juventude, com marcados pontos incidindo sobre o aspecto cultural e a inegável importância das religiões neopentecostais sobre todo o espectro.

Nomes e entidades importantes são bastante citados a exemplo do general Leônidas Pires Gonçalves, bastante falado ao tempo de Tancredo Neves, José Sarney e Fernando Henrique Cardoso, o maior impulsionador de muitas ideias hoje praticadas, paradoxalmente com o apoio de muitos esquerdistas notórios.

O que faz surgir uma indagação curiosa em relação às esquerdas. Elas nunca perceberam estarem sendo envolvidas em uma trama deste porte? E, principalmente, eram partícipes de projetos que terminaram atropelados resultando no Brasil de hoje, onde, pandemia a parte, o que não falta são bem intencionados perdidos nos campos de batalha política?

Rudá Ricci utilizou não de poucas horas de estudos e leituras somadas aos seus conhecimentos prévios, deixando antever um cenário há muito tempo trabalhado para dar forma literal às suas pesquisas transformadas em obras literárias. A primeira impressão fixada é a de que adquiriram resultados positivos os esforços no sentido de retroceder conquistas sociais que em determinado momento parecem intransponíveis.

Não é um livro para ser lido apressadamente e tampouco devagar, pois somente as junções de todos os dados nos leva à conclusão de que o nazismo ronda o Brasil, apesar de ser uma balela qualquer teoria em relação à pureza das raças. Principalmente se tal aspecto tiver como epicentro esta terra pretensamente descoberta por Cabral.

E como fica Bolsonaro no âmbito de história, ele é reconhecidamente marcado como um carente de inteligência e cultura minimamente necessária para assumir um papel de tamanha grandeza no cenário mundial. O que fica parecendo é que, a favor de outros, ele caiu de paraquedas em um cenário do gosto próprio, porém sem o devido preparo para o exercício da função.

Resta agora ver como tudo terminará – inclusive o mundo – com os jogos postos em aberto e os resultados da guerra entre a Ucrânia e a Rússia, de novo a Europa sendo transformada em teatro das operações belicistas. Temos de aguardar para vermos quem vencerá. Os Estados Unidos da América do Norte ou a Rússia. Ou então se o mundo se modificará mesmo passando a existir mais uma potência chinesa.

Ou se de tudo existente nada restará a não ser cinzas das armas atômicas, sem vencedores para contemplá-las.