O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, tem enfrentado um momento de desgaste em sua relação com o Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo com histórico de bom trânsito na Corte, Tarcísio viu suas pontes se abalarem, inclusive com o ministro Alexandre de Moraes, com quem mantinha diálogo frequente. Nos bastidores, interlocutores do tribunal relatam que o distanciamento se intensificou após recentes declarações públicas do governador e críticas feitas a portas fechadas.
O ponto de ruptura mais evidente foi o discurso de Tarcísio durante o ato bolsonarista em Copacabana, no Rio de Janeiro, ao lado do ex-presidente Jair Bolsonaro. Em cima de um trio elétrico, ele classificou os réus dos atos golpistas de 8 de Janeiro como “inocentes que receberam penas desarrazoadas” e defendeu a anistia como forma de pacificação. “O que eles fizeram? Usaram batom? Num país onde traficantes são soltos e corruptos voltam à política, isso é justo? Precisamos garantir a anistia para aqueles inocentes que nada fizeram”, disse o governador.
As falas causaram incômodo entre ministros do STF, incluindo Moraes, relator dos inquéritos que investigam os ataques à democracia. A percepção entre os magistrados é que Tarcísio tenta equilibrar uma imagem de político moderado com gestos cada vez mais alinhados ao bolsonarismo, estratégia que tem gerado desconfiança na Corte.
A crise atual não é isolada. Em 2023, a relação entre Tarcísio e o STF já havia esfriado quando Moraes determinou a suspensão da rede social X (antigo Twitter) por descumprimento de ordens judiciais. Na ocasião, Tarcísio tentou convencer o ministro a reconsiderar a decisão, mas foi ignorado. Após o episódio, ele optou por não comparecer a um jantar oferecido por Moraes, que havia sido homenageado pelo Ministério Público de São Paulo.
Apesar do desgaste, Tarcísio mantém agenda com Bolsonaro e participará de um novo ato pró-anistia em abril, desta vez em São Paulo, sinalizando que deve seguir apostando na base bolsonarista.
Foto: Mônica Andrade/Governo do Estado de SP