Em entrevista à Folha de São Paulo, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL), revelou que o PT garantiu o direito de indicar um nome para uma vaga no Tribunal de Contas da União (TCU). Esse compromisso faz parte das negociações para que o PT apoie a candidatura de Hugo Motta (Republicanos-PB) à presidência da Câmara, cuja eleição está marcada para fevereiro. Segundo Lira, o PT expressou interesse em conquistar um espaço no TCU, onde historicamente nunca teve representação. Com duas aposentadorias previstas no tribunal até 2027, essas vagas passaram a ser elementos centrais nas articulações políticas.
Questionado sobre sua condução no processo para a escolha de seu sucessor, Lira explicou que buscou construir uma candidatura que unisse a Casa. Ele mencionou que, inicialmente, havia três candidatos, todos com histórico de lealdade e colaboração em votações importantes. Lira destacou que priorizou o fortalecimento da base partidária de maneira representativa, sempre em busca de convergência entre os diferentes grupos.
Lira também demonstrou disposição para dialogar com lideranças de partidos como o PSD e o União Brasil. Referiu-se a Antonio Brito (PSD) e Elmar Nascimento (União Brasil) como amigos e parceiros, afirmando que há espaço e tempo para que todos os partidos se envolvam de forma organizada. Em relação à declaração de Elmar sobre sentir-se traído, Lira reafirmou seu compromisso com a amizade e o diálogo, destacando que trabalhará para superar eventuais ressentimentos surgidos no processo.
Lira comentou ainda sobre o acordo com o PT. Embora sua relação com o presidente Lula e o PT seja relativamente recente, ele tem uma longa trajetória de diálogo com parlamentares petistas na Câmara. Desde a eleição de Lula, Lira se reuniu com o presidente para alinhar interesses e criar pontes entre o Legislativo e o Executivo, facilitando o diálogo e o apoio mútuo. Segundo ele, essas negociações são de caráter administrativo e buscam organizar espaços estratégicos, como mesas, comissões e relatorias, dentro da Câmara.
Ao abordar a questão do TCU, Lira confirmou que o PT requisitou o direito de indicar um nome, mencionando que o partido nunca teve um representante no tribunal. Em resposta, ele afirmou que foi estabelecido um compromisso para que o PT faça essa indicação quando a vaga estiver disponível, o que fortalece o apoio entre o partido e a liderança da Câmara.
Outro tema abordado foi a criação de uma comissão especial para analisar o Projeto de Lei da Anistia. Lira explicou que o projeto estava sendo politicamente utilizado como instrumento de campanha para a eleição da Mesa Diretora, o que ele considera inadequado. Ele afirmou que a decisão sobre votações cabe à Casa, não ao presidente da Câmara, e que temas sensíveis como este devem ser tratados com responsabilidade e diálogo.
Sobre as emendas parlamentares, Lira explicou que há um acordo entre Câmara, Senado e governo federal. Ele destacou a importância de garantir que universidades, hospitais e obras paralisadas recebam recursos necessários, criticando a falta de clareza na programação orçamentária dos ministérios. Lira reforçou a necessidade de um alinhamento entre os Poderes para resolver a questão de maneira eficiente.
Questionado sobre a interferência entre os Poderes, Lira comentou que a sobreposição de um Poder sobre o outro é prejudicial ao equilíbrio institucional. Ele ressaltou que a Câmara sempre se manteve equidistante e que acredita na moderação como base para o funcionamento do Legislativo. Para ele, é fundamental revisar atos monocráticos que possam interferir nas decisões do Congresso, respeitando a autonomia de cada Poder.
Lira também abordou a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que trata das decisões monocráticas. Ele afirmou que ainda não houve uma reunião de líderes para discutir o tema, mas percebe um consenso crescente no Congresso sobre a necessidade de regulamentar essas decisões.
Sobre os resultados das eleições municipais e sua relação com uma eventual reforma ministerial, Lira afirmou que resultados locais e nacionais não são diretamente comparáveis, mas reconheceu que o Brasil tem um perfil conservador de centro-direita. Para ele, isso se reflete em um Parlamento de tendência moderada, exigindo uma articulação constante com um governo progressista no Executivo.
Por fim, Lira abordou as críticas de ser considerado “truculento” em sua atuação política. Ele afirmou que, em 34 anos de vida pública, sempre manteve autenticidade e transparência em suas relações. Para Lira, estereótipos são comuns na política, mas acredita que sua postura reta e direta é apreciada pelo público. “Não me vejo como truculento. Faço uma política reta, e acredito que as pessoas gostam desse modo de ser,” concluiu.
Foto: Lula Marques/ Agência Brasil