Durante a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Japão nesta semana, o Brasil firmou uma série de acordos com o governo japonês para ampliar a cooperação bilateral em áreas consideradas estratégicas, como meio ambiente, ciência e tecnologia, agropecuária, educação, inclusão digital e prevenção de desastres. A comitiva brasileira, que contou com ministros e parlamentares, participou de reuniões com autoridades japonesas, incluindo o primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, com quem Lula manteve um encontro bilateral.
Entre os acordos firmados está o memorando de cooperação nas áreas de Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs) e inclusão digital, assinado pelo ministro das Comunicações, Juscelino Filho, e seu homólogo japonês, Murakami Seiichiro. Segundo Juscelino, a parceria impulsionará a inovação, a modernização do setor de telecomunicações e a economia digital no Brasil. A cooperação prevê intercâmbio de conhecimento, organização de eventos técnicos e a facilitação de visitas entre profissionais e pesquisadores dos dois países.
Além disso, será criado o Diálogo Brasil-Japão sobre Economia Digital, com representantes de ambos os países atuando como pontos focais. A iniciativa buscará promover sustentabilidade digital e compartilhar experiências em inovação e redução do impacto ambiental causado pelas TICs.
Na área da agricultura, o ministro Carlos Fávaro (Agricultura e Pecuária) e o ministro japonês Taku Eto (Agricultura, Silvicultura e Pesca) assinaram uma carta de intenções para colaborar na recuperação de pastagens degradadas no Brasil. O acordo integra o Programa Nacional de Conversão de Pastagens Degradadas (PNCPD), que pretende recuperar até 40 milhões de hectares sem desmatamento, dobrando a produtividade agropecuária com o uso de tecnologias sustentáveis e bioinsumos.
“Nosso objetivo é aumentar a produção agrícola sem precisar derrubar uma árvore no Cerrado ou na Amazônia. Essa parceria com o Japão reforça nosso compromisso com a sustentabilidade e com a segurança alimentar global”, afirmou Fávaro. O acordo também abre caminho para ações conjuntas de pesquisa, tecnologia e implementação de boas práticas no campo.
Na área ambiental, a ministra do Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva, e o ministro japonês Keiichiro Asao assinaram um memorando de cooperação que abrange diversas frentes, como mitigação das emissões de gases de efeito estufa, adaptação às mudanças climáticas, conservação da biodiversidade, combate à poluição e promoção da economia circular.
O documento prevê, entre outros instrumentos, a realização de projetos conjuntos, estudos de viabilidade, diálogos políticos e técnicos, e a organização de seminários e workshops. “Esse acordo fortalece a atuação conjunta rumo à COP30 e aprofunda a colaboração entre Brasil e Japão em agendas como meio ambiente urbano, tecnologia e mecanismos inovadores de financiamento climático”, destacou Marina Silva.
Outro setor contemplado foi a educação. O Ministério da Educação (MEC), representado pelo ministro Camilo Santana, assinou um memorando de cooperação com o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia do Japão. O acordo destaca a importância da formação de recursos humanos e do intercâmbio acadêmico para o desenvolvimento das duas nações.
Ainda no campo educacional, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e a Sociedade Japonesa para Promoção da Ciência (JSPS) retomaram uma parceria interrompida em 2020, durante a pandemia da covid-19. A iniciativa apoia projetos conjuntos de pesquisa desenvolvidos por grupos vinculados a instituições de ensino superior e centros de pesquisa nos dois países. “Esse acordo significa mais oportunidades de mobilidade acadêmica e mais parcerias para a internacionalização do ensino superior brasileiro”, afirmou Santana.
A cooperação Brasil-Japão também alcançou o campo da gestão de riscos e desastres naturais. O ministro da Integração e do Desenvolvimento Regional, Waldez Góes, assinou um memorando de entendimento com o governo japonês voltado à prevenção e mitigação de desastres hídricos, como enchentes e secas severas. O objetivo é desenvolver soluções que ajudem a reduzir os impactos causados por eventos climáticos extremos.
“Não temos como impedir que desastres naturais ocorram, sobretudo com as mudanças climáticas em curso. Mas podemos trabalhar para que seus efeitos sejam minimizados. Esse acordo nos ajuda a construir políticas públicas centradas na proteção da vida”, disse Góes. O Brasil tem enfrentado desafios significativos nesse campo, como as enchentes no Sul e a seca prolongada na Amazônia e no Pantanal.
Os acordos firmados refletem o aprofundamento das relações diplomáticas entre Brasil e Japão, que completam 130 anos em 2025. O Japão é um dos principais parceiros estratégicos do Brasil na Ásia e o intercâmbio entre os dois países tem se fortalecido ao longo das últimas décadas, especialmente em temas como comércio, tecnologia, ciência e cultura.
O Brasil abriga hoje a maior comunidade nipodescendente fora do Japão, com cerca de 2 milhões de pessoas, enquanto o Japão tem a quinta maior comunidade brasileira no exterior, com aproximadamente 210 mil residentes. Essa conexão histórica e cultural também se reflete no campo econômico: em 2023, o intercâmbio comercial entre os dois países movimentou US$ 11 bilhões, com um superávit de US$ 146,8 milhões para o Brasil.
A viagem de Lula ao Japão e a assinatura dos acordos também indicam a intenção do governo brasileiro de diversificar parcerias internacionais, ampliando os horizontes da política externa em um cenário geopolítico global em transformação. O gesto sinaliza uma retomada das relações multilaterais, com foco em temas como sustentabilidade, inovação e desenvolvimento inclusivo.
Com os atos assinados, Brasil e Japão reforçam o compromisso de construir soluções conjuntas para os desafios contemporâneos, como as mudanças climáticas, o desenvolvimento tecnológico e a segurança alimentar. Os documentos firmados estabelecem novos marcos de cooperação e sinalizam uma parceria estratégica duradoura entre as duas nações.
Foto: Ricardo Stuckert / PR
