As Forças Armadas ainda são consideradas a instituição mais confiável pelos brasileiros, mas o índice de confiança voltou ao pior patamar desde o início da série histórica do Datafolha em 2017. Segundo a nova pesquisa realizada nos dias 12 e 13 de dezembro, com 2.002 entrevistados, a confiança nos militares oscilou de 37% para 34%, enquanto a desconfiança subiu de 23% para 24%. Outros 40% declararam confiar um pouco na instituição.
Esse resultado coincide com a sequência de revelações sobre a trama golpista para manter Jair Bolsonaro (PL) no poder após a derrota eleitoral em 2022. A Polícia Federal indiciou 40 pessoas até o momento, sendo 28 delas militares, a maioria do Exército. A situação piorou no último fim de semana com a histórica prisão do general Walter Braga Netto, ex-ministro da Casa Civil e candidato a vice-presidente na chapa de Bolsonaro.
No início do governo Bolsonaro, em 2019, a confiança nas Forças Armadas chegou a 45%, refletindo o alto prestígio do Exército durante aquele período. Contudo, o envolvimento de militares na tentativa de golpe levou a uma deterioração na percepção popular.
A pesquisa também avaliou a confiança em outras instituições. A imprensa teve uma leve melhora: a confiança subiu de 20% para 22%, e a desconfiança caiu de 34% para 28%. Outros 48% afirmaram confiar um pouco nos veículos de comunicação.
Redes sociais e partidos políticos continuam sendo as instituições com os piores níveis de confiança. Quase metade dos entrevistados (49%) disseram não confiar nas redes sociais, e apenas 7% declararam total confiança. Os partidos políticos têm situação semelhante: 50% não confiam, 6% confiam, e 42% declararam confiar um pouco.
O Congresso Nacional também registrou baixa confiança: 42% não confiam na instituição, 11% confiam totalmente, e 46% confiam um pouco. A Presidência da República apresentou índices um pouco melhores, com 24% declarando total confiança, 36% sem confiança e 40% no meio termo.
Comparando com 2017, no governo Michel Temer (MDB), as instituições viviam um momento de maior desgaste. Na época, 64% rejeitavam o Planalto e 67% o Congresso. Partidos políticos enfrentavam a desconfiança de 68% da população.
O sistema de Justiça segue com avaliação mediana. No caso do Supremo Tribunal Federal (STF), 38% disseram não confiar, enquanto 24% declararam confiança. Outros 35% ficaram na posição intermediária. O Judiciário como um todo registrou 28% de confiança, 24% de desconfiança e 46% de confiança parcial.
O Ministério Público teve resultados semelhantes, com 25% de confiança total, 24% de desconfiança e 49% declarando confiança parcial.
As grandes empresas foram avaliadas de forma mais positiva. Para 52% dos entrevistados, elas são parcialmente confiáveis. Outros 26% as veem como totalmente confiáveis, enquanto 20% declararam desconfiança.
Os resultados do Datafolha evidenciam um contexto de desgaste institucional, com destaque para a queda na confiança nos militares. A crise política e as investigações sobre a tentativa de golpe revelaram fragilidades e provocaram danos à imagem das Forças Armadas, que agora enfrentam uma percepção mais crítica por parte da sociedade brasileira.
Marcello Casal Jr / Agência Brasil
