O governo federal encaminhou nesta segunda-feira (16/12) uma lista com 17 indicações para diretorias de agências reguladoras, em um movimento político para fortalecer alianças no Senado. Outras dez vagas serão preenchidas nos primeiros meses de 2025. O principal interlocutor do Planalto nessas negociações é o senador Davi Alcolumbre (União-AP), favorito para suceder Rodrigo Pacheco (PSD-MG) na presidência da Casa em fevereiro.

A estratégia do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é antecipar as negociações para garantir apoio no Congresso, especialmente com um aliado influente como Alcolumbre, que terá papel central na condução de pautas prioritárias do governo. As indicações contemplam cargos na Anac, Anvisa, ANTT, Ancine e ANP, todas passando previamente pelo aval de Alcolumbre.

Interlocutores do Planalto garantem que Rodrigo Pacheco também tem sido consultado e que Lula deseja manter sua influência no cenário político. No entanto, o movimento é visto como um gesto de pragmatismo de Lula, que busca consolidar Alcolumbre como um aliado estratégico.

Durante o governo Bolsonaro, o Senado ganhou protagonismo na indicação de nomes para agências reguladoras, algo que os parlamentares não desejam abrir mão. Lula, que já criticou o excesso de poder dos senadores sobre essas escolhas, optou por ceder para evitar paralisar os órgãos de fiscalização.

As negociações foram alinhadas em uma reunião em novembro com a presença de Lula, Alcolumbre, Rodrigo Pacheco, Alexandre Padilha (ministro de Relações Institucionais) e o senador Otto Alencar (PSD-BA). O acordo definiu que o Senado terá prioridade nas indicações, e Alcolumbre será responsável por concentrar as demandas e filtrar os nomes apresentados pelos demais senadores.

Entre os beneficiados, destacam-se aliados de caciques do Senado. Otto Alencar conseguiu emplacar Artur Watt Neto como presidente da ANP. Eduardo Braga (MDB-AM) e Jaques Wagner (PT-BA) disputam vagas na Aneel, que, devido às divergências internas, ainda não teve indicações enviadas.

Braga defende Willamy Frota, ex-presidente da Amazonas Energia, para a vaga ocupada por Ricardo Lavorato Tili. Já Wagner apoia Angelo Rezende, advogado ligado ao PT da Bahia, enquanto o ministro Alexandre Silveira tenta nomear Gentil Nogueira de Sá Júnior, atual Secretário Nacional de Energia Elétrica.

Outro exemplo de articulação política envolve a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar). O governo indicou Wadih Damous, ex-deputado e aliado histórico de Lula, para a presidência da agência. Em contrapartida, a senadora Daniella Ribeiro (PSD-PB), aliada de Alcolumbre, terá a prerrogativa de indicar um nome para a próxima vaga na ANS, que será aberta em maio.

Na Anvisa, a escolha foi por Leandro Pinheiro Safatle, atual secretário adjunto do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação. Sua indicação contou com apoio do Conselho Nacional de Secretários de Saúde e do Conselho Nacional de Saúde, consolidando o nome como um consenso.

A aproximação entre Lula e Alcolumbre é vista como estratégica pelos governistas. Alcolumbre, que presidiu o Senado entre 2017 e 2019, é considerado um articulador habilidoso capaz de conter crises e influenciar o andamento de projetos. Seu apoio foi crucial na montagem da equipe ministerial do governo Lula, tendo indicado Waldez Góes, ex-governador do Amapá, para o Ministério da Integração Nacional.

“Alcolumbre é um mestre nas relações políticas. Ele sabe ser afável, mas é firme quando precisa. O governo sabe que poderá contar com ele nas pautas essenciais”, afirma Eduardo Braga.

Com o Senado dividido entre 39 senadores na base governista, 29 na oposição e 13 considerados indecisos, Lula busca consolidar apoio para evitar derrotas em votações estratégicas. Alcolumbre, ao centralizar as indicações, reforça sua posição como líder influente na próxima legislatura.

Essa articulação também fortalece o pragmatismo político de Lula, que, ao ceder espaço nas agências reguladoras, busca evitar tensões desnecessárias com o Senado. A postura do presidente reflete sua experiência em lidar com o Congresso, onde alianças são fundamentais para a governabilidade.

Resta saber se a estratégia será suficiente para manter a base unida e garantir que os interesses do Planalto avancem sem resistências. Enquanto isso, as agências reguladoras, com suas novas diretorias, desempenharão papel central na implementação das políticas do governo federal.

Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

 

 


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