Os números apurados pelo escritório de advocacia AG Immigration junto ao Departamento de Estado norte-americano confirmam o interesse dos brasileiros em viajar para os Estados Unidos mesmo com o dólar alto. Além da fila de espera de um ano para entrevistas nos consulados, em maio o país norte-americano emitiu 79.212 vistos para cidadãos brasileiros, uma alta de 13% sobre abril e maior patamar do ano.

Trata-se do maior registro mensal desde março de 2017, quando as informações começaram a ser disponibilizados mês a mês. Como de costume, o visto mais popular entre os brasileiros foi o de negócio e turismo (B1/B2), com 73.078 emissões (u 92% do total) O dado é reflexo da alta demanda dos brasileiros pelos Estados Unidos, na esteira da retomada da atividade turística e da flexibilização das medidas pós-pandemia.

Câmbio desfavorável

Os quatro primeiros meses do ano, segundo informações do Departamento de Comércio, 315 mil turistas brasileiros entraram nos Estados Unidos. Hoje, o Brasil está no quarto lugar do ranking entre os países que mais mais enviaram visitantes à América do Norte neste ano, à frente da Alemanha, Índia e Itália e de regiões inteiras, como Oriente Médio, Europa Oriental, África e Oceania.

“Desde que as atividades foram normalizadas nos consulados e na Embaixada, em novembro do ano passado, a demanda por vistos de turismo não para de crescer, mesmo com a variação cambial desfavorável. É importante destacar, contudo, que essas emissões não necessariamente dizem respeito a solicitações feitas apenas neste ano. Como os órgãos diplomáticos ficaram fechados durante quase dois anos para o público geral, em razão da pandemia, o acúmulo de pedidos é muito grande”, comenta o advogado de imigração Felipe Alexandre, sócio-fundador da AG Immigration.

Atualmente, o tempo de espera para se conseguir uma entrevista no Consulado dos Estados Unidos em São Paulo é de 365 dias. No Consulado do Rio de Janeiro, são 465 dias. A espera chega ainda a 307 dias em Recife, 384 em Porto Alegre e 381 em Brasília.

Um dos moticos dessa alta procura é a realização da Cúpula das Américas nos Estados Unidos, no início do mês passado, que fez com que a emissão de vistos diplomáticos tivesse um salto significativo em maio. Vistos das classes A, C e G, destinados a embaixadores, ministros, diplomatas, oficiais governamentais, assim como seus familiares, assistentes e demais funcionários, registraram 666 emissões no mês passado, uma alta de 78,5% sobre abril.

Fuga de “cérebros”

Os números levantados pela AG Immigration também mostram que a fuga de cérebros brasileiros continua em ritmo acelerado. Nos cinco primeiros meses de 2022, por exemplo, os Estados Unidos emitiram 1.514 vistos EB-1, EB-2 ou EB-3 para brasileiros.

Os vistos EB são destinados, em sua grande maioria, para indivíduos com elevados níveis de qualificação acadêmica e distintas carreiras profissionais. São pessoas, por exemplo, com mestrado e doutorado, altamente reconhecidas nacional e internacionalmente, com décadas de especialização e elevada produtividade acadêmica. Em outras palavras, trabalhadores altamente cobiçados pelas grandes economias.

Para fins de comparação, nos três anos anteriores, a emissão de vistos EB-1, EB-2 e EB-3 para brasileiros somou 1.695, ou seja, praticamente o mesmo do que os cinco primeiros meses de 2022.

“Tem havido um movimento muito forte de mentes talentosas deixando o Brasil em busca de oportunidades no exterior, em especial nos EUA. O que temos ouvido de nossos clientes é que a situação econômica e política, sobretudo as eleições, tem desanimado as pessoas em relação a perspectivas futuras no Brasil, independentemente de ideologia”, comenta Alexandre.


Paola Tito