As articulações para concretizar a união entre Alexandre Kalil (PSD) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Minas Gerais devem levar um representante petista ao posto de candidato a vice-governador. Neste momento, segundo apurou o Estado de Minas, o deputado estadual André Quintão é o favorito a ser o parceiro de Kalil na chapa. Reginaldo Lopes, que deve abandonar a pré-candidatura ao Senado a fim de viabilizar a aliança, também é aventado.

Nesta terça-feira (17/5), Kalil se reúne com parlamentares petistas para debater o assunto. Antes, o nome preferido dele para ser seu vice-candidato era Agostinho Patrus (PSD), presidente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais, que também participa do encontro. Interlocutores apontaram à reportagem que, diante das ameaças de a candidatura ao governo sequer sair do papel por causa dos impasses internos nos quadros pessedistas, Agostinho não deve estar na chapa.

A costura para garantir o palanque Lula-Kalil se intensificou a partir do fim de semana passado, com reuniões em São Paulo (SP). O presidente nacional do PSD, Gilberto Kassab, teve papel importante no desenlace dos nós que travavam as negociações. Deputados pessedistas que defendiam apoio a Jair Bolsonaro (PL) e embolavam o retrato devem ter liberdade para seguir suas crenças.

Com a iminente saída de Agostinho, a vaga de vice, então, passaria a ser ocupada pelo PT. É aí que André Quintão, líder da coalizão de oposição a Romeu Zema (Novo) na Assembleia, entra na equação. O fato de ele ser benquisto por Kalil pode pesar a favor, bem como a possibilidade de Reginaldo Lopes não ter interesse no cargo de vice.

André é do grupo político do deputado federal petista Patrus Ananias. Essa ala do partido teve certo espaço na prefeitura durante os cinco anos de Kalil. No início de seu primeiro mandato, o gestor de Belo Horizonte escolheu a assistente social Maíra Colares para a secretaria de Assistência Social, Segurança Alimentar e Cidadania após Patrus negar o convite.

“Falei [a Patrus]: ‘então, me arruma uma assistente social que você confie. Disso não entendo nada e preciso ajeitar a tragédia que estou vendo acontecer'”, disse, em 2020, ao “Roda Viva”, da TV Cultura.

PT reivindica espaço na chapa de Kalil

Desde o início deste ano, o impasse para concretizar a união de Lula a Kalil está no Senado Federal. Enquanto os petistas trabalhavam para construir a candidatura de Reginaldo Lopes, o PSD deixava explícito que Alexandre Silveira concorrerá à reeleição. Em um cenário onde Kalil e Agostinho seriam os nomes ao governo, com Alexandre na disputa pelo Senado, a chapa teria apenas nomes pessedistas. Por isso, o PT reivindicava espaço formal na coalizão.

Na semana passada, quando Lula esteve em Minas Gerais, Reginaldo Lopes fazia questão de afirmar, nos bastidores, que aceitaria cenário com dois postulantes a senador – houve, inclusive, consultas à Justiça Eleitoral sobre o tema. A ideia de manter Silveira e entregar a vice-candidatura ao governo aos petistas contempla o espaço pedido pelos partidários de Lula.

Ontem, a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann – deputada federal pelo Paraná – afirmou que Reginaldo Lopes será o coordenador da campanha presidencial de Lula em Minas. “Importante conversa hoje [ontem] com Lula e com o companheiro Reginaldo Lopes, que vai conduzir a construção do palanque Lula-Kalil e coordenar a campanha de Lula e [Geraldo] Alckmin no estado. Juntos para vencer em Minas e no Brasil”, escreveu a dirigente, no Twitter.

A fala de Gleisi sobre a cessão do posto de coordenador da campanha a Reginaldo tem sido interpretada por petistas como o recado que sepulta as chances dele concorrer ao Senado. Ele, porém, adotou tom ameno ao tratar do tema.

“Recebi a missão de Lula para coordenar sua campanha e de Geraldo Alckmin em Minas. Continuamos os diálogos com o PSD e nossos aliados no projeto pela retomada da democracia e reconstrução do Brasil, que só é possível com Lula presidente”, tergiversou.

Ontem, à sucursal da Zona da Mata e do Campo das Vertentes da TV Alterosa, Kalil admitiu que as tratativas com o PT estavam “andando”. “O presidente Lula anunciou para todo mundo que o candidato que ele quer é o Kalil. Eu já declarei, inclusive, o voto dele. Lula e Kalil não têm problemas. Vamos marchar juntos. Não vai haver o menor problema”.

Lula pediu esforços do PT por Kalil

Na semana passada, Lula deu recado à cúpula mineira pedindo a continuidade dos esforços para atrair Kalil. A diretriz foi passada durante reunião a portas fechadas com deputados, em um hotel de BH. O ex-prefeito, embora convidado a comparecer a um ato do presidenciável com sua militância, não participou.

“Voltarei muitas vezes a Minas Gerais. Temos que fazer muitas conversas aqui. Há muitas coisas a serem acertadas. Vamos ter que construir algumas alianças no estado”, projetou Lula.

Antes das reuniões em São Paulo, o PT de Minas trabalhava em duas frentes: além de manter o diálogo em prol de Kalil, também dava forma à candidatura de Reginaldo ao Senado. Prova disso é que, na sexta-feira (13/5), dirigentes fizeram reunião para reafirmar o desejo de ter nome próprio na corrida pela vaga na Câmara Alta no Congresso.

O encontro serviu, inclusive, para, naquele momento, dar recado a dissidentes que já defendiam abertamente o apoio a Silveira. Um dos partidários da ideia é o deputado estadual Virgílio Guimarães.

“Estamos na discussão com a coligação com o PSD. Eu apoio a ideia da coligação. O Kalil seria o candidato. O PT terá de fazer a opção, mas a maioria da bancada estadual e federal quer a coligação. Eu apoio o Kalil para o governo e o Silveira para o Senado”, afirmou Virgílio, há quatro dias.

Bolsonaristas do PSD liberados

Em abril, a bancada federal do PSD mineiro se reuniu com Alexandre Silveira para dizer que, além da reeleição dele ao Senado, desejavam cerrar fileiras pela vitória de Bolsonaro. Mesmo com o alinhamento de Kalil a Lula, o grupo deve ter liberdade para apoiar o presidente da República.

O desejo de estar com Bolsonaro é compartilhado por Diego Andrade, Subtenente Gonzaga, Stefano Aguiar e Misael Varella, os quatro parlamentares federais do partido em Minas.