Durante um discurso marcante no Minas Tênis Clube, a candidata à prefeitura de Belo Horizonte, Duda Salabert (PDT), trouxe à tona as dificuldades enfrentadas pela comunidade de travestis e transexuais no Brasil. Com uma trajetória política dedicada à defesa dos direitos humanos e da inclusão social, Duda aproveitou a ocasião para expor a realidade cruel que essas pessoas enfrentam e para reiterar seu compromisso com a transformação social, caso eleita.

Duda começou seu discurso destacando uma triste estatística: o Brasil é o país que mais mata travestis e transexuais no mundo, há 16 anos consecutivos. A candidata reforçou que 80% desses assassinatos ocorrem com requintes de crueldade, uma violência hiperbolizada que vai além de simples execuções. Além disso, ela chamou atenção para a questão racial, observando que 83% das vítimas são negras, o que revela uma interseção entre racismo, transfobia e questões de classe.

Outra questão levantada por Duda foi a marginalização de travestis e transexuais no mercado de trabalho. Segundo ela, 90% dessa população no Brasil está envolvida na prostituição, não por escolha, mas pela falta de oportunidades no mercado formal. A candidata explicou que essas mulheres são frequentemente expulsas de suas famílias, escolas e ambientes de trabalho. De acordo com uma pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), 91% das travestis e transexuais de Belo Horizonte não concluíram o ensino médio, algo que Duda caracterizou como “expulsão escolar”, em vez de evasão. Para ela, o sistema educacional do país favorece os privilegiados, enquanto exclui ainda mais os vulneráveis.

Duda também abordou a grave situação de saúde das travestis e transexuais no Brasil, destacando que 41% delas vivem com HIV. Ela relatou um episódio vivido em seu projeto educacional, criado em Belo Horizonte para oferecer educação gratuita a essa população, onde as alunas revelaram que aceitavam fazer programas sem preservativo em troca de uma pequena quantia a mais, muitas vezes apenas R$ 10. Esse relato, segundo a candidata, exemplifica a extrema vulnerabilidade econômica dessas mulheres, que se veem forçadas a colocar suas vidas em risco por valores insignificantes.

Além dos dados e relatos, Duda compartilhou as violências que ela própria enfrentou ao longo de sua carreira política. Ela recordou sua candidatura ao Senado em 2018, quando, apesar de saber que não venceria, decidiu concorrer como um ato simbólico e de resistência. Durante a campanha, foi alvo de uma onda de ataques online, que chegaram a incluir ameaças à sua filha de cinco anos. Mesmo após ser eleita a vereadora mais votada de Belo Horizonte em 2020, Duda continuou a sofrer ataques, desta vez de grupos neonazistas, que enviaram cartas com ameaças de morte e violência.

Apesar de todas as adversidades, Duda ressaltou que sua luta vai além das urnas. Ela afirmou que “nossos sonhos não cabem nas urnas” e que sua candidatura é uma forma de desafiar as estruturas de poder e lutar por um Brasil mais justo e inclusivo. A candidata enfatizou que a política e a educação são as principais ferramentas para essa transformação, e que sua trajetória pessoal e profissional sempre foi guiada por esse compromisso.

Durante o discurso, Duda também destacou sua campanha lixo zero, como parte de seu compromisso com a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental. Sem distribuir panfletos, santinhos ou adesivos, a candidata reforçou que suas ações são pautadas pelo respeito ao meio ambiente e pela busca por um modelo de governança mais consciente e inclusivo.

A candidata encerrou sua fala reafirmando seu compromisso de lutar pelos direitos das travestis e transexuais e pela construção de uma sociedade que valorize a diversidade e a dignidade de todos os cidadãos.

Foto: Cissa Otoni


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