O deputado Elmar Nascimento (BA) anunciou a retirada de sua candidatura à presidência da Câmara, afirmando que não colocaria sua vontade acima das decisões partidárias. Em uma declaração feita na sede do União Brasil, em Brasília, na manhã desta quinta-feira, 31, Elmar mencionou sua decepção com o presidente da Câmara, Arthur Lira, a quem considerava seu melhor amigo. “Eu já cheguei muito longe do que achava possível. Esse processo já comecei perdendo, perdi um amigo que considerava o meu melhor amigo, o presidente Arthur Lira”, disse Elmar.
Desde o dia anterior, a liderança do União Brasil vinha pressionando Elmar a abandonar a candidatura, com o objetivo de se aliar a Hugo Motta (Republicanos-PB) e garantir que o partido não perdesse espaço de influência na Câmara. Motta, que conseguiu formar uma aliança ampla com apoio de siglas como PT e PL, emergiu como favorito para a sucessão de Lira. Elmar deve reunir a bancada na próxima terça-feira, 5, para discutir os termos do acordo com Motta.
A liderança das articulações com o Republicanos caberá a Elmar, ao presidente do União Brasil, Antônio de Rueda, e ao secretário-geral do partido, ACM Neto. O deputado Pauderney Avelino (União-AM) confirmou após uma reunião que esses líderes irão conduzir as negociações e formalizar a retirada da candidatura de Elmar.
“Não posso desistir do que não é meu. A candidatura é do meu partido e dos aliados que estavam ao meu lado”, comentou Elmar, ressaltando a importância de priorizar a unidade partidária sobre as preferências individuais. “Se todos decidirem pela desistência, eu tenho que refletir. Não posso impor minha vontade pessoal sobre a decisão coletiva, especialmente como líder do partido”, declarou antes do encontro com a liderança.
Elmar, que chegou a ser o preferido de Lira para sucedê-lo, manifestou frustração com o rompimento de confiança que sentiu em relação ao presidente da Câmara. Desde que Lira mudou de posicionamento em setembro, apoiando Motta para a eleição de fevereiro, Elmar se afastou do alagoano, com quem mantinha uma amizade pessoal. O relacionamento só foi retomado neste mês, quando Lira ligou para discutir votações no plenário, mas o contato foi limitado a formalidades.
Para competir com a aliança de Lira e Motta, Elmar tentou fortalecer sua base, formando uma aliança com o deputado Antônio Brito (PSD-BA). No entanto, Brito também tem sido pressionado a desistir da corrida pela presidência da Câmara. Motta, por sua vez, já conta com o apoio de uma coalizão abrangente, incluindo PT, PL, MDB, Podemos, PP, PCdoB e seu partido, o Republicanos.
Buscando uma base sólida de apoio, Elmar aproximou-se do Partido dos Trabalhadores (PT) nas últimas semanas, tentando construir pontes com membros do governo federal. Ele se reuniu com figuras influentes, como os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Paulo Teixeira (Desenvolvimento Agrário) e Alexandre Padilha (Relações Institucionais), em busca de apoio para sua candidatura. O líder do União Brasil também se encontrou com representantes do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em São Bernardo do Campo (SP), locais de importância histórica para o PT e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Até o mês de setembro, quando era considerado o candidato de preferência de Lira, Elmar mantinha o apoio de uma parcela significativa da bancada do PT, apesar de um histórico de atritos com o partido na Bahia. Contudo, após Lira escolher Motta como seu candidato, a liderança petista passou a negociar diretamente com o Republicanos.
Além das divergências locais com o ministro da Casa Civil, Rui Costa, outro ponto de resistência do PT em relação a Elmar é seu histórico de oposição ao partido em nível nacional. O deputado baiano criticou publicamente o ex-presidente Lula, chegando a chamá-lo de “ladrão” e foi um defensor ativo do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. Essa postura crítica enfraqueceu o apoio petista à sua candidatura e facilitou o alinhamento do PT com Motta.
Elmar agora concentra esforços para garantir que sua retirada da disputa pela presidência da Câmara aconteça em um contexto que preserve o apoio de sua base e a posição do União Brasil dentro da estrutura de poder da Casa.