A equipe médica responsável pela cirurgia do ex-presidente Jair Bolsonaro divulgou, nesta segunda-feira, uma atualização detalhada sobre o estado de saúde do paciente. Segundo os profissionais, apesar do resultado considerado satisfatório da intervenção, não há previsão para a alta da unidade de terapia intensiva (UTI). A estimativa inicial é de uma internação hospitalar de, no mínimo, duas semanas. Bolsonaro encontra-se acordado, lúcido, consciente e alimentando-se por via intravenosa.

Cláudio Birolini, cirurgião especializado em parede abdominal e chefe da equipe médica, afirmou que o quadro clínico ainda inspira cuidados. Ele explicou que o procedimento foi necessário diante de uma distensão abdominal persistente, resultado de complicações anteriores, especialmente das várias cirurgias que o ex-presidente já enfrentou após o atentado à faca sofrido em dois mil e dezoito.

“O abdome dele é um ambiente hostil por causa das operações prévias. A facada contribuiu para esse cenário. Só para acessar a parede abdominal, levamos duas horas. Havia muitas aderências. O intestino apresentava sinais de sofrimento, o que indica que esse quadro não surgiu recentemente, mas vinha se agravando há algum tempo”, relatou Birolini. “Esperamos que ele não precise passar por nova cirurgia nas próximas horas, mas novas aderências devem surgir com o tempo, o que é esperado nesse tipo de caso.”

O cardiologista Leandro Echenique, que também integra a equipe médica, reforçou o caráter delicado da situação. Ele informou que, até o momento, não há sequer uma estimativa sobre quando o ex-presidente poderá deixar a UTI. “A cirurgia foi extremamente complicada, mas obtivemos um resultado excelente. Ainda assim, o organismo responde com inflamação e há risco elevado de infecções e trombose. O pós-operatório será prolongado e requer atenção constante”, afirmou.

No domingo, Jair Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia de grande porte no hospital DF Star, em Brasília. A intervenção durou aproximadamente doze horas e teve como objetivo desobstruir parte do intestino, eliminar aderências e reconstruir a parede abdominal. O boletim médico confirmou que a operação foi concluída sem intercorrências, sem necessidade de transfusão de sangue, e que o paciente permanece clinicamente estável, sem dor, mas com suporte clínico e nutricional intensivo.

O procedimento realizado foi uma laparotomia exploradora, técnica que exige a abertura do abdome para análise direta dos órgãos internos. No caso de Bolsonaro, o diagnóstico apontou retenção no trânsito intestinal causada por uma dobra no intestino delgado, o que bloqueava a digestão. A correção cirúrgica permitiu restaurar a passagem e realizar a reconstrução da musculatura abdominal.

Segundo os médicos, a obstrução intestinal foi consequência direta de aderências formadas em decorrência da facada sofrida em dois mil e dezoito, que já resultou em diversas internações e intervenções cirúrgicas ao longo dos últimos anos. A equipe acredita que o ex-presidente enfrentava esse quadro há semanas ou até meses, embora os sintomas tenham se agravado recentemente.

Bolsonaro passou mal na última sexta-feira, durante agenda política no estado do Rio Grande do Norte. Na ocasião, ele sentiu fortes dores abdominais e foi atendido inicialmente em um hospital na cidade de Santa Cruz, a cerca de cento e quinze quilômetros de Natal. Em seguida, foi transferido para a capital potiguar e, posteriormente, para Brasília, onde foi internado no hospital DF Star e encaminhado rapidamente ao centro cirúrgico.

O início da operação ocorreu por volta das dez horas da manhã de domingo e foi concluída por volta das nove da noite. Durante esse período, Michelle Bolsonaro, ex-primeira-dama, utilizou suas redes sociais para atualizar os apoiadores sobre a situação. Inicialmente, ela anunciou que a cirurgia terminaria entre dezenove e vinte horas, mas depois voltou a informar que o procedimento levaria mais tempo. Após o término da operação, ela escreveu que Bolsonaro havia ido para o “quarto”, o que gerou confusão. Os médicos esclareceram que ela se referia ao quarto da UTI, e não a uma unidade de internação comum.

Durante o procedimento, também estiveram presentes outros aliados do ex-presidente. A senadora Damares Alves (Republicanos-DF) afirmou que toda cirurgia intestinal envolve riscos elevados, sobretudo em pacientes com histórico de traumas e idade avançada. “Estamos falando de uma pessoa que já passou por muitos procedimentos. A família sempre soube que ele não teria uma vida normal depois daquele atentado. São sequelas que ele carrega até hoje”, disse ela a jornalistas.

A equipe médica expressou preocupação com o estilo de vida ativo e a agenda intensa de Bolsonaro, que costuma viajar frequentemente em compromissos políticos pelo país. “O presidente é muito inquieto. É difícil contê-lo. Tentaremos segurá-lo o quanto for necessário para garantir a recuperação completa”, disse Cláudio Birolini. Segundo ele, o repouso é indispensável para evitar complicações futuras.

Ainda que a cirurgia tenha sido bem-sucedida, os médicos alertaram para o risco de surgimento de novas aderências, comuns em quadros como o do ex-presidente. Essas formações podem, com o tempo, provocar novas obstruções intestinais. “Essa é uma consequência esperada, infelizmente. O importante agora é acompanhar a evolução clínica, evitar infecções e manter a nutrição adequada. O paciente está desidratado e bastante debilitado”, afirmou Birolini.

Essa não é a primeira vez que Jair Bolsonaro é internado em razão de obstrução intestinal. Em maio do ano passado, ele já havia sido hospitalizado pelo mesmo motivo. Outros episódios semelhantes ocorreram em dois mil e vinte e três e em dois mil e vinte e um. Em duas dessas ocasiões, foram necessárias cirurgias para restaurar o funcionamento adequado do intestino.

Alguns conselheiros políticos próximos ao ex-presidente chegaram a sugerir que ele fosse encaminhado a São Paulo, para ser operado pela equipe do cirurgião Antônio Luiz Macedo, responsável por todas as intervenções realizadas após a facada de dois mil e dezoito. No entanto, Michelle Bolsonaro optou por manter o procedimento em Brasília, sob os cuidados de Birolini, especializado justamente em reconstrução de parede abdominal e tratamento de aderências.

A obstrução intestinal é um quadro que ocorre quando há bloqueio, total ou parcial, no intestino, impedindo o trânsito de alimentos, líquidos e fezes. Esse bloqueio pode ser causado por diversos fatores, incluindo inflamação, tumores, hérnias ou, como no caso de Bolsonaro, por aderências formadas após cirurgias anteriores. Os sintomas típicos incluem dor intensa, distensão abdominal, vômitos, febre e dificuldade para evacuar.

Birolini reforçou que a condição apresentada por Bolsonaro no fim da semana passada foi a mais grave desde os primeiros sinais da doença. “Ele chegou com dor intensa, desidratação acentuada e uma distensão abdominal bastante evidente. Posso afirmar que foi o quadro mais exuberante que observei, embora eu não tenha acompanhado presencialmente os episódios anteriores”, explicou o médico em entrevista coletiva.

No momento, a prioridade da equipe médica é garantir a recuperação estável do ex-presidente, com atenção especial à prevenção de complicações, como infecções hospitalares, trombose e desequilíbrios nutricionais. A equipe acompanha a evolução diariamente, ajustando medicações e intervenções conforme a resposta do organismo.

Embora os médicos não tenham descartado a necessidade de novas intervenções no futuro, a expectativa atual é de que Bolsonaro consiga retomar a rotina sem maiores restrições após um período de recuperação que pode se estender por até três meses. Até lá, ele seguirá em observação constante, com visitas restritas e sem previsão de alta.

Foto: Cristiano Mariz

 


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