Na noite de quinta-feira (31), familiares de Marielle Franco e Anderson Gomes reagiram emocionados à condenação de Ronnie Lessa e Élcio de Queiroz, considerados culpados pelas mortes da vereadora e de seu motorista. A família, que acompanhou a leitura da sentença na primeira fila do tribunal, contou com a presença de figuras próximas, como Marcelo Freixo e Mônica Benício, além da esposa de Anderson, Ágatha Arnaus.
Com abraços e lágrimas, a família expressou o alívio pela condenação após anos de espera por justiça. A viúva de Marielle, Mônica Benício, emocionada, não conseguiu conter o choro, enquanto Ágatha era amparada por uma amiga. Para os familiares, o veredicto representou uma vitória importante, ainda que parcial, na busca por justiça.
Na saída do tribunal, os familiares falaram à imprensa sobre o significado do momento. Luyara Franco, filha de Marielle, destacou a importância da decisão para a memória de sua mãe e de Anderson. “A nossa coragem nos trouxe até aqui. É um dia muito difícil. Eu queria minha mãe aqui, e a Ágatha queria o Anderson. Mas hoje é um primeiro passo e vamos seguir lutando”, declarou.
Marinete Silva, mãe de Marielle, também expressou seu alívio e a necessidade de continuar a luta pela memória de sua filha. “Essa condenação precisava ser feita. Vamos continuar lutando, cada dia é uma vitória nossa,” desabafou emocionada.
A esposa de Anderson, Ágatha, falou sobre a importância de levar o orgulho da resistência ao filho Arthur. “Hoje vou abraçar o Arthur com mais orgulho. Lutamos, foi difícil, mas estou orgulhosa de nós mesmos por não termos desistido,” disse, emocionada.
Durante o julgamento, Luyara comentou a dificuldade de ouvir o depoimento dos réus, que demonstraram uma frieza assustadora. Ela ressaltou a dor de ver a falta de arrependimento dos condenados: “Eles falam como se tirar uma vida fosse algo simples. É difícil, mas estou orgulhosa de não termos desistido,” concluiu.
Antônio Francisco, pai de Marielle, disse que a condenação trouxe alívio, mas destacou que ainda há muito a ser feito. “Nossa luta começa a partir do dia 15 de março, com a pergunta que ecoou durante anos: ‘Quem mandou matar Marielle e Anderson?’,” disse ele, visivelmente comovido. Para Antônio, conhecido como Toinho, a luta por justiça não acaba aqui, pois ele acredita que existem mandantes por trás do crime. “Hoje, conseguimos condenar os executores, mas queremos saber quem são os mandantes. Esse choro que eles exibem nas oitivas, para mim, não é sincero. Nosso choro é o verdadeiro, pois perdemos a Marielle e o Anderson,” afirmou.
Antônio também expressou descrença no arrependimento dos réus: “Esse choro nosso é sincero. Esse, eu acredito. Mas o arrependimento deles, não. ‘Ah, eu quero pedir perdão porque estou arrependido.’ O perdão, talvez possamos dar, mas o arrependimento verdadeiro não vimos. Marielle e Anderson não vão voltar, e esse vazio ficará para sempre,” concluiu.
A condenação trouxe penas pesadas para os envolvidos. Ronnie Lessa, acusado de ser o atirador, foi condenado a 78 anos e 9 meses de prisão, enquanto Élcio Queiroz, apontado como motorista do carro utilizado no crime, recebeu uma pena de 59 anos e 8 meses. Os crimes incluem:
– Duplo homicídio triplamente qualificado, caracterizado por motivação torpe, emboscada e impossibilidade de defesa das vítimas;
– Tentativa de homicídio contra Fernanda Chaves, assessora de Marielle, que sobreviveu ao atentado e testemunhou no julgamento;
– Receptação do Cobalt prata clonado, utilizado no crime.
A sentença foi recebida com aplausos no tribunal, representando um marco importante para as famílias e apoiadores que aguardavam justiça desde o assassinato ocorrido em março de 2018. A decisão trouxe um misto de alívio e tristeza, pois, embora represente um avanço na busca por respostas, os familiares ressaltam que a luta só será completa quando os mandantes também forem responsabilizados.
Nos dias anteriores do julgamento, os familiares enfrentaram momentos difíceis ao ouvir a descrição do crime com a frieza relatada por Lessa, revivendo as emoções daquela noite fatídica.
Foto: Reprodução