Nesta segunda-feira, 23, Israel lançou uma nova e intensa onda de bombardeios aéreos contra alvos no sul do Líbano, agravando ainda mais a já tensa situação entre os dois países. O Ministério da Saúde do Líbano confirmou que 492 pessoas perderam a vida e mais de 1.200 ficaram feridas após os ataques, que se tornaram os maiores realizados por Israel contra o país desde a guerra com o Hezbollah em 2006.
Os ataques israelenses visaram mais de 1,3 mil alvos do Hezbollah, de acordo com fontes militares. A ofensiva desta segunda-feira foi a mais ampla territorialmente desde o início das hostilidades entre as duas partes, que se intensificaram após o ataque do Hamas na Faixa de Gaza há quase um ano. O Hezbollah respondeu rapidamente, lançando mais de 165 foguetes contra o norte de Israel, atingindo principalmente a região metropolitana de Haifa.
O clima de tensão foi elevado ainda mais com o disparo de pelo menos 10 projéteis de longo alcance contra assentamentos na Cisjordânia, localizados a mais de 100 quilômetros da fronteira libanesa. Em um vídeo publicado nas redes sociais, o primeiro-ministro de Israel, Binyamin Netanyahu, justificou a intensificação dos ataques dizendo que o país “não estava esperando a ameaça chegar” e que os bombardeios visam “mudar o equilíbrio de forças no norte”.
Os caças israelenses também atacaram cidades próximas à fronteira sul do Líbano e no Vale do Beca, região localizada a cerca de 30 km a leste da capital, Beirute. Moradores relataram que, com o aumento da violência, há um grande fluxo de carros tentando sair da cidade em busca de áreas mais seguras. Um residente da região afirmou que, embora o Vale do Beca não tenha sido atingido anteriormente, a proximidade com vilarejos cristãos e muçulmanos xiitas coloca a área em risco.
Enquanto os ataques ocorriam, o Hezbollah disparou “dezenas” de mísseis em retaliação contra Israel. O Exército israelense confirmou 35 desses disparos, muitos dos quais caíram em áreas abertas ou foram abatidos pelo sistema de defesa israelense. A violência crescente colocou a população libanesa em alerta, com o governo pedindo que as pessoas deixem as áreas de atuação do Hezbollah.
A situação se tornou ainda mais tensa com as tentativas de Israel de alertar os civis libaneses. Segundo a operadora de telecomunicações Ogero, Israel fez mais de 80 mil tentativas de ligação para os habitantes do sul do Líbano, pedindo que saíssem das áreas onde o Hezbollah atua. Além disso, o rádio Voice of Lebanon foi hackeado e passou a transmitir mensagens do exército israelense em meio aos ataques. Essas ações reforçam a escalada da campanha aérea israelense no território libanês.
Questionado sobre uma possível invasão terrestre no Líbano, o porta-voz militar de Israel, Daniel Hagari, declarou que, por enquanto, o foco permanece na “campanha aérea”, sem planos imediatos de uma ofensiva terrestre. No entanto, analistas temem que o aumento das hostilidades possa eventualmente levar a esse tipo de ação.
Em Beirute, a capital do Líbano, as autoridades tentam lidar com o caos gerado pelos bombardeios. Escolas particulares já recomendaram que os pais busquem seus filhos devido à possibilidade de novos ataques. Em uma escola no leste da capital, testemunhas descreveram uma cena de confusão, com ruas congestionadas e estudantes saindo às pressas enquanto pais apressados tentavam retirá-los das instituições.
A troca de hostilidades entre Israel e o Hezbollah atingiu seu ponto mais crítico desde o início da guerra em Gaza. Na semana passada, uma operação atribuída a Israel, embora negada oficialmente, resultou na explosão de milhares de aparelhos de comunicação utilizados pelo Hezbollah, matando dezenas de combatentes e ferindo mais de 3 mil pessoas, segundo fontes libanesas. O Hezbollah retaliou com centenas de foguetes, que forçaram Israel a fechar o espaço aéreo no norte do país e emitir alertas de segurança para a população civil.
Os ataques não cessaram, e o Hezbollah disparou cerca de 150 foguetes e drones no domingo, atingindo uma área próxima a Haifa, a terceira maior cidade de Israel. Após os novos bombardeios israelenses nesta segunda-feira, o Hezbollah voltou a retaliar, lançando projéteis contra a cidade de Safed, no norte de Israel. As Forças Armadas israelenses confirmaram que os projéteis foram interceptados ou caíram em áreas desabitadas, resultando em apenas ferimentos leves a cinco pessoas.
O Hezbollah, aliado do grupo palestino Hamas, deixou claro que as ações israelenses no Líbano não passarão sem resposta. O grupo afirmou que continuará retaliando até que um cessar-fogo em Gaza seja obtido, elevando ainda mais as tensões regionais. O vice-líder do Hezbollah, Naim Qassem, afirmou que o ataque perto de Haifa era “apenas o começo” e que o conflito havia entrado em um “novo estágio”, prometendo lutar contra Israel de maneiras imprevisíveis.
Em meio a essa escalada, o ministro da Defesa israelense, Yoav Gallant, pediu calma e disciplina à população de Israel, instruindo os moradores do norte a permanecerem próximos a abrigos e evitarem aglomerações. Enquanto isso, no Líbano, equipes de resgate continuam trabalhando nos escombros de um bombardeio israelense que matou Ibrahim Aqil, comandante do braço armado do Hezbollah, na sexta-feira. Estima-se que entre 10 e 15 pessoas ainda estejam presas nos destroços do prédio, que Israel afirma ser um centro de operações do Hezbollah.
Com a situação se deteriorando rapidamente, tanto Israel quanto o Hezbollah mostram sinais de que a violência ainda pode aumentar, enquanto os civis de ambos os lados pagam o preço mais alto em meio à escalada do conflito.