A maior seca em extensão já registrada no Brasil está causando uma situação crítica em diversos municípios, com algumas localidades ficando quase seis meses sem chuva. Embora a falta de precipitação seja generalizada em várias regiões, Minas Gerais concentra todas as cidades que estão há mais tempo sem registrar chuvas, de acordo com levantamento do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden). Dez municípios mineiros, todos localizados no Norte do estado, estão há 158 dias consecutivos sem chuva, enquanto outros quatorze municípios enfrentam um período de 157 dias sem precipitação.

A seca se estende por Minas Gerais, Bahia e Goiás, afetando quase todo o Centro-Oeste, além de partes do Norte, Sudeste e Nordeste, que estão sem chuva há pelo menos 120 dias. Regiões do interior do Brasil enfrentam de 90 a 120 dias de seca contínua, agravando a situação em estados de todas as regiões. A especialista em secas do Cemaden, Ana Paula Cunha, afirma que até recentemente, apenas o semiárido enfrentava períodos tão prolongados de estiagem. Agora, o padrão de “chuva zero” se espalhou por outras áreas do Brasil, ampliando os danos à vegetação e ao solo, que não possuem a resiliência necessária para lidar com tamanha secura.

Esse cenário resulta em um ciclo vicioso: a ausência de chuvas reduz a umidade do ar, o que por sua vez impede que ocorram precipitações. Mesmo nas regiões onde a seca é menos severa, as poucas chuvas que caem apenas aliviam temporariamente as ondas de calor, sem resolver o problema de forma duradoura. O Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) prevê que uma frente fria trará chuvas para o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, mas o restante do Brasil, especialmente o Centro-Norte, continuará enfrentando dificuldades até outubro.

Durante a estação seca, as frentes frias são as principais responsáveis pelas chuvas, mas este ano elas têm sido mais fracas e oceânicas, deixando grande parte do interior do país sem qualquer precipitação, explica Tércio Ambrizzi, coordenador do INCLINE, da Universidade de São Paulo (USP). Em Minas Gerais, a seca agravou ainda mais as condições já desfavoráveis no Norte do estado, combinando desmatamento, calor extremo e degradação da vegetação nativa, o que reduz ainda mais a umidade retida no solo e nas plantas.

Um estudo do Cemaden, realizado com exclusividade para O Globo, revelou que Minas Gerais foi o estado que mais esquentou em 2023, o ano mais quente já registrado na história. A tendência de aumento das temperaturas e expansão do semiárido no Norte de Minas é evidente, alerta Ana Paula Cunha. Segundo ela, o impacto da atual seca pode durar por anos, já que uma única estação chuvosa não será suficiente para recuperar completamente a vegetação e os recursos hídricos.

As previsões indicam que setembro será um mês crítico, com poucas perspectivas de alívio até meados de outubro, quando a estação chuvosa deve começar. No entanto, chuvas esporádicas até lá poderão ajudar a apagar incêndios e reduzir a temperatura, mas não resolverão o problema da seca. Marcelo Seluchi, coordenador de operações do Cemaden, reforça que apenas a estação chuvosa com precipitações consistentes pode melhorar a umidade do solo e aumentar a vazão das bacias hidrográficas.

A causa principal da seca generalizada é o Oceano Atlântico, que permanece excepcionalmente quente desde o ano passado, bloqueando a entrada de umidade no Brasil. Modelos climáticos sugerem que essa condição perdurará até 2025, com maior impacto nas regiões Centro-Norte do país. A expectativa é que o verão de 2024/2025 traga um pouco mais de chuva, especialmente com a possível formação de uma La Niña, exceto na Região Sul, que poderá sofrer com chuvas abaixo da média.

Com informações de O Globo.

 


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