Em meio ao esgoto que polui a Lagoa da Pampulha, a natureza resiste. Além de jacarés e capivaras, habitantes já famosos do local, outras centenas de espécies de animais também vivem nas águas sujas de um dos principais cartões-postais de Belo Horizonte. São mais de 300 tipos diferentes de bichos que fizeram da lagoa o lar.

Alguns, inclusive, são raros e ameaçados de extinção no Brasil. Caso das aves colhereiros e dos pernilongos de costas brancas. Mas há, ainda, tapetis, preás, cágados, tartarugas, serpentes e outros. Na bacia mais charmosa e frequentada da capital mineira, é possível encontrar mamíferos, moluscos, anfíbios, répteis, insetos e muitas aves.

As aves, aliás, representam 50% dos animais que vivem por lá. “Mas muitas são transitórias e circulam por áreas verdes próximas”, destaca o gerente de Defesa dos Animais da Secretária Municipal de Meio Ambiente (SMMA), Leonardo Maciel. Ou seja, alimentam-se no local, mas reproduzem e dormem em outros pontos da cidade.

Apesar do monitoramento diário que a prefeitura realiza, com biólogos e veterinários, e do levantamento das espécies, o município não sabe informar com exatidão quantos animais habitam a Lagoa da Pampulha. São aproximadamente 31 jacarés e 56 capivaras, por exemplo. Em relação às demais espécies, não há um número conclusivo.

“É um dado dinâmico, que varia de acordo com a estação do ano e ao longo do dia. É um número flutuante, justamente por vários animais serem transitórios”, pontua o representante da SMMA. Ainda de acordo com o especialista, a lagoa também funciona como ponto de alimentação para os animais que estão em trânsito, “para aqueles que migram de Estado e param lá para recuperar as forças”, detalha.

Sujeira x vida na lagoa

No entanto, sendo a Lagoa da Pampulha tão poluída, como pode abrigar tantas espécies? O especialista esclarece que, apesar de todo o lixo escancarado no cartão-postal, há uma explicação para o local ser o escolhido por tantos animais.

“A lagoa não é tão insalubre quanto se pensa. Alguns pontos têm qualidade da água superior. Além disso, a fauna consegue se adaptar e reproduzir, o que permite a sobrevivência das espécies”, assegura.

Leonardo Maciel ainda classificou a sobrevivência dos animais na Pampulha como “grito de socorro”. Para ele, a natureza está tentando se refazer em meio à urbanização. “Por isso, é preciso que as pessoas pensem no equilíbrio ecológico, como um todo. É preciso participar preservando a área verde, a árvore do quintal, da calçada. Preservar é preciso. A nossa sobrevivência depende da gente”, analisa.

Consumo de risco

Por lei, o consumo de animais da Lagoa da Pampulha, como peixes, não é permitido. A ingestão, inclusive, pode causar sérios danos à saúde. Por isso, a pesca no local é proibida.

“O consumo não é adequado, não só pela contaminação bacteriana, mas por diversos outros fatores. Muita gente acha que basta fritar o peixe e está lindo, mas não funciona assim. Metais pesados não saem com a fritura e têm efeito cumulativo ao longo do tempo”, alerta.

Com relação a interação humana, o município ressalta que a bacia é o habitat de todos os animais que vivem ali e o dividem com outros seres vivos em espaço urbano. “Neste sentido, a Prefeitura recomenda que as pessoas não tentem manuseá-los e, em caso de necessidade, seja imediatamente acionado o Corpo de Bombeiros”, frisa.