A Polícia Federal (PF) solicitou explicações ao Exército sobre o uso de veículos oficiais por militares envolvidos em um plano para assassinar o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). O grupo, que elaborou a conspiração após as eleições de 2022, utilizou sete veículos oficiais para monitorar as autoridades. A operação foi deflagrada antes da posse de Lula e Alckmin.
O relatório apresentado pela PF ao ministro Alexandre de Moraes, antes da Operação Contragolpe, apontou a necessidade de acesso a registros detalhados dos veículos utilizados. Entre os dados solicitados estão os registros de abastecimento, itinerários, ordens de missão, qualificação dos militares envolvidos e informações de entrada e saída das viaturas nos quartéis. Segundo a PF, esses documentos são cruciais para esclarecer lacunas nas investigações.
O ministro Moraes, ao receber o relatório, considerou o pedido legítimo e determinou que o Exército apresentasse as informações solicitadas em um prazo de 24 horas. Até o momento, a instituição não respondeu à imprensa sobre o envio dos dados. Em nota, afirmou que não comentará processos em andamento conduzidos por outros órgãos, em respeito às instituições republicanas.
Entre os veículos utilizados pelos golpistas está uma viatura do modelo Palio, pertencente ao Batalhão de Ações e Comando (BAC), uma unidade de elite do Exército. Esse veículo foi monitorado em deslocamento de Goiânia para Brasília em 15 de dezembro de 2022, data escolhida pelos conspiradores para a execução do plano. O ministro Moraes estava na capital federal nesse dia, e os deslocamentos indicam movimentações suspeitas relacionadas à tentativa de execução do plano golpista.
A PF requereu informações do Exército referentes ao período de 20 de novembro de 2022 a 15 de janeiro de 2023. Esse intervalo inclui uma série de eventos que abalaram o cenário político e institucional do país, como o bloqueio de estradas após o segundo turno das eleições, acampamentos de apoiadores radicais, atos terroristas durante a diplomação da chapa Lula-Alckmin e a invasão das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.
As viaturas oficiais, incluindo as ligadas ao plano de assassinato, representam uma nova pressão sobre as Forças Armadas. Apesar de alegarem respeito às instituições, as investigações apontam que setores da caserna facilitaram ou participaram ativamente de ações que colocaram em risco a democracia e a segurança do país.
O uso de veículos oficiais do Exército em um plano golpista reforça questionamentos sobre o papel de parte dos militares nos eventos que tentaram desestabilizar a transição de governo. Enquanto alguns membros da instituição se esquivam das acusações, os desdobramentos da investigação da PF trazem à tona responsabilidades individuais e institucionais.
As apurações em curso prometem lançar luz sobre a profundidade do envolvimento militar, destacando a necessidade de responsabilização dos envolvidos e medidas que garantam o fortalecimento do estado democrático de direito.
Foto: Marcello Casal Jr / Agência Brasil