A Polícia Federal (PF) está investigando a identidade de três pessoas que teriam participado do planejamento de um golpe de Estado em 2022. O plano incluía o assassinato do então presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) e do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que na época presidia o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Os suspeitos faziam parte de um grupo chamado “Copa 2022” no aplicativo Signal, utilizado para organizar a conspiração. Cada integrante adotava codinomes de países, como Alemanha, Argentina, Brasil, Áustria, Gana e Japão, para dificultar a identificação. A PF conseguiu vincular alguns desses apelidos a nomes de suspeitos, mas ainda busca identificar com precisão outros participantes, como o responsável pelo codinome “Argentina 2”.
De acordo com os investigadores, a linha telefônica associada a “Argentina 2” está registrada no nome de uma pessoa residente em Patrocínio, Alagoas, que aparentemente não tem ligação com o caso. Outro codinome, “Brasil”, foi vinculado a uma linha telefônica cadastrada no nome de um morador de Salvador, Bahia, que também nega envolvimento. No entanto, a PF descobriu que esse número foi posteriormente ativado com um aparelho utilizado pelo tenente-coronel Rodrigo Bezerra de Azevedo, um dos suspeitos.
Na operação deflagrada em 19 de novembro, a PF prendeu cinco pessoas: o general da reserva Mário Fernandes, os tenentes-coronéis Hélio Ferreira Lima, Rafael Martins de Oliveira e Rodrigo Bezerra de Azevedo, além do policial federal Wladimir Matos Soares. Segundo as investigações, Rafael Oliveira seria o responsável pelo codinome “Japão”, enquanto Mário Fernandes é apontado como autor do plano chamado “Punhal Verde e Amarelo”, que previa o assassinato de Lula, Alckmin e Moraes.
As investigações avançam com o cruzamento de dados de localização de celulares, arquivos apreendidos e mensagens trocadas no grupo “Copa 2022”. A PF encontrou indícios de que os suspeitos chegaram a se posicionar para matar Moraes em 15 de dezembro de 2022, mas o plano foi abortado de última hora. Ainda segundo os agentes, há conexões entre essas ações e o plano geral de golpe liderado por Mário Fernandes.
O advogado de Rodrigo Bezerra de Azevedo, Jeffrey Chiquini, nega o envolvimento do tenente-coronel no plano e afirma que ele não ficará em silêncio ao depor. “Não existe a alegada trama de golpe. É um grande factoide. Temos provas para demonstrar a fragilidade dessa investigação”, disse. Chiquini também alegou que, na data em que a PF suspeita que houve uma tentativa de mobilização, seu cliente estava comemorando aniversário em família, o que desqualificaria as acusações.
Enquanto isso, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) saiu em defesa dos militares presos, afirmando que as detenções são “injustas” e que não há base legal para as prisões preventivas dos oficiais. “Esses que estão sendo presos agora, de forma preventiva, não encontram respaldo na lei”, declarou em suas redes sociais no último sábado (23).
Paralelamente, a PF indiciou 37 pessoas, incluindo Bolsonaro, sob acusações de tentativa de abolição violenta do Estado democrático de Direito, tentativa de golpe de Estado e organização criminosa. Caso sejam condenados, as penas podem variar de 12 a 28 anos de prisão, sem contar agravantes.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) indicou que eventuais denúncias formais sobre os casos devem ser apresentadas apenas no próximo ano, prolongando a conclusão desse capítulo das investigações. A PF, no entanto, segue tentando identificar os últimos membros do grupo conspiratório e aprofundar a conexão entre os suspeitos e as evidências levantadas.
As prisões e investigações têm gerado grande repercussão política, enquanto o país acompanha os desdobramentos dessa tentativa de golpe que colocou em risco a democracia brasileira.
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