A Petrobras anunciou na última terça-feira (19) um reajuste no preço da gasolina para distribuidoras. O valor médio repassado foi de R$ 4,06 para R$ 3,86, em redução de R$ 0,20 por litro.

A queda de quase 5% no preço do combustível deve repercutir nas próximas leituras do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que mede a inflação oficial do país, de acordo com especialistas consultados pelo CNN Brasil Business.

De quanto será o impacto, porém, não é consenso: enquanto uns estimam deflação na casa de 0,2 pontos percentuais (p.p.) no IPCA de 2022, trazendo a inflação anualizada ao patamar de 7%, outros já não entendem que a medida terá tanto impacto assim.

É o caso do economista-chefe da Órama Investimentos, Alexandre Espírito Santo, que prevê que a redução do valor da gasolina deve aliviar a inflação de agosto em 0,1 ponto.

“O efeito se dará integralmente no próximo mês”, disse ele à reportagem. “Não é muita coisa, mas, diante do atual cenário da escalada inflacionária, já ajuda. Para o ano, não vemos nenhum impacto.”

A estimativa da Órama para o IPCA de 2022 é de 7,2%, enquanto 2023 já vê uma redução para 5,4%.

Vale relembrar que, em leitura de junho último, a inflação acumulada deste ano é de 5,49% — acima do teto da meta, de 5%. Nos últimos 12 meses, o indicador acumula alta de 11,89%.

Em outra estimativa, a Greenbay Investimentos prevê que a redução no preço da gasolina em R$ 0,20 deve produzir uma queda de 0,15 a 0,20 pontos percentuais nas próximas leituras do IPCA, que repercutirão no resultado anual.

“Vamos começar a sentir o impacto no final de julho, mas se dará principalmente em agosto. A divisão que fazemos é que julho repercutirá 30% da queda e, agosto, 70%”, diz Flávio Serrano, head de análises macroeconômicas da consultoria.

Com isso, a leitura para este mês, segundo expectativas da Greenbay, é de deflação entre 0,6% e 0,7%. O IPCA de agosto vai em linha à estimativa da Órama Investimentos, com previsão de queda de 0,1%.

No ano, por outro lado, há arrefecimento em 0,2 p.p. Antes prevista em 7,2% pela Greenbay, a expectativa é que caia para 7%.

“Isso porquê a redução do preço da gasolina às distribuidoras sucede outras medidas que já estão em curso. O teto do ICMS estabelecido em 17% ou 18%, a depender do estado, já reflete uma queda nos combustíveis, e os impostos federais PIS/Cofins reduzidos sobre a gasolina também”, disse o especialista.

Entre o final do mês de junho e o começo de julho, todos os 26 estados da União e o Distrito Federal reduziram o teto da alíquota do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços para 17% ou 18%.

Ao longo dessas três semanas que se seguiram, o preço médio da gasolina, segundo dados da Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural, e Biocombustíveis (ANP) divulgados na última sexta-feira (15), retornou aos mesmos patamares de setembro de 2021. Em queda de 17,8%, chegaram a apresentar o valor médio de R$ 6,07 nas bombas.

Seguindo a esteira da redução do teto do ICMS, o reajuste às distribuidoras da última terça-feira também impacta no que é visto nos postos de gasolina. Segundo Serrano, cerca de 2,5% e 3% do valor passará a ser abatido das bombas a partir desta quarta.

André Braz, coordenador do Índice de Preços da Fundação Getúlio Vargas (FGV), também faz essa projeção: para ele, as bombas apresentarão queda média de 2% após o reajuste.

Na visão dele, em linha a dos outros especialistas consultados, agosto deve ter uma inflação reduzida em 0,1 ponto percentual. Em julho, a queda deve ser de aproximadamente 0,05 p.p.

“A despesa com combustíveis pesa em média 6,5% do orçamento familiar, e cada 1% de queda tem impacto de -0,07 ponto percentual no IPCA. A redução não vai toda para o consumidor, vai menos da metade. Na bomba é de 2%. A influência total é de 0,14 ponto percentual no IPCA, dividida nesses dois períodos”, explica Braz à redação da CNN no Rio de Janeiro.

Há quem estime uma queda maior, em especial na leitura anual. Para a Renascença Investimentos, a redução de R$ 0,20 no valor da gasolina pode reduzir o IPCA de 2022 para 6,6%, ante projeção de 6,9%.

No curto prazo, a estrategista de inflação da casa, Andrea Angelo, prevê que julho já repercutirá o reajuste, também por causa das medidas tomadas no final de junho.

“Os impactos da redução do teto do ICMS e zeragem de PIS/Cofins vieram muito rápido em efeito nas bombas, contrariando o que, historicamente, tem um repasse mais lento”, disse ela.

Para julho, a Renascença espera o IPCA em queda de 0,71%, e, para agosto, em queda de 0,20%.

A Ativa Investimentos segue essa linha. No ano, a previsão é que a inflação esteja em 6,9% por causa da sucessão de medidas. Já agosto poderá ver redução de 0,17 p.p., segundo o especialista Étore Sanchez, indo de 0,22% a 0,05%.