A Petrobras reduziu em 3,56% o preço do diesel vendido nas refinarias. Com isso, o valor cobrado das distribuidoras, a partir de hoje, será reduzido em R$ 0,20 por litro, passando de R$ 5,61 para R$ 5,41. Segundo economistas, a redução terá impacto discreto para o consumidor e pouco efeito na inflação. O diesel estava em trajetória de alta desde julho de 2021. Outros combustíveis comercializados pela refinaria não sofrerão alteração de valores.

“Considerando a mistura obrigatória de 90% de diesel A e 10% de biodiesel para a composição do diesel comercializado nos postos, a parcela da Petrobras no preço ao consumidor passará de R$ 5,05, em média, para R$ 4,87 a cada litro vendido na bomba”, informou a estatal, em nota. O preço final, contudo, depende das distribuidoras e dos revendedores finais, que têm liberdade para fixar preços.

De acordo com André Braz, economista do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getúlio Vargas (Ibre/FGV), a queda de 3,56% é pequena em relação à elevação acumulada em 12 meses. “O diesel acumula 56% de alta, e isso é que pressiona as cadeias produtivas”, explicou. Além disso, embora afete os preços de todas as mercadorias transportadas por rodovia no país, o produto tem peso reduzido no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o índice oficial de inflação.

“A participação indireta é importante, mas, no IPCA, a redução de valor influencia na retração de 0,002% no índice. Não é uma diminuição dessas que vai estimular uma redução no preço do frete, por exemplo. Mas pode ser que a Petrobras reveja outros (preços) até o fim do ano”, observou.

A última mudança nos preços do diesel ocorreu em 17 de junho, quando a Petrobras elevou o valor cobrado nas refinarias em 14,26%, de R$ 4,91 para R$ 5,61 por litro. A redução é a primeira desde 1º de maio de 2021.

Nos últimos meses, a Petrobras vem sendo pressionada pelo governo a segurar os reajustes dos combustíveis. Apesar deste contexto político, o presidente da Associação Brasileira de Importadores de Combustíveis (Abicom), Sérgio Araújo, avaliou que a decisão da estatal reflete o novo cenário do mercado. “A Petrobras tinha espaço para fazer essa redução. A (política de) paridade de preços internacionais permite a queda”, explicou.

O presidente Jair Bolsonaro comemorou o corte no preço. “A Petrobras, com novo presidente, anunciou a primeira redução do diesel”, declarou, pelas redes sociais. “É pouca coisa? Sim, 20 centavos é pouca coisa, mas pesa no bolso. A Petrobras já havia reduzido, há duas semanas, o preço da gasolina nas refinarias em R$ 0,35. Espero que outras reduções aconteçam”, acrescentou.

Equilíbrio

Na nota em que anunciou a redução do preço do diesel, a Petrobras informou, que a decisão “é coerente com a prática da companhia, que busca o equilíbrio com o mercado global, mas sem o repasse imediato para os preços internos da volatilidade conjuntural das cotações internacionais e da taxa de câmbio”.

Carla Ferreira, pesquisadora do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), explicou que redução reflete a dinâmica das cotações no mercado externo, que, mesmo com a guerra na Ucrânia, têm caído em função da desaceleração da economia global e das perspectivas de recessão nos Estados Unidos e na Europa. “Tendo em vista que a Petrobras já estava praticando preços acima do PPI, essa redução faz parte do movimento. Há uma diferença praticada no mercado externo já há alguns dias”, disse.

Ela destacou, no entanto, que o cenário é de volatilidade, devido a fatores como a resistência dos países da Opep a elevar a produção de petróleo e o aumento das tensões geopolíticas entre Estados Unidos e China, além dos baixos estoques internacionais do produto.

O presidente da Associação Brasileira de Condutores de Veículos Automotores (Abrava), Wallace Lamdim, avaliou que a redução ainda não resolve o problema dos altos preços do diesel. “Eu olho com cautela essa possibilidade de redução no preço. Mais de 20% do nosso diesel é importado e existe uma escassez no mundo. Qual o estoque de segurança de diesel no Brasil?”, questionou.