Desde 2004, quem passa em frente à Biblioteca Central da UFMG, no campus Pampulha, depara com o monumento Liberdade, que homenageia estudantes da Universidade assassinados durante a ditadura militar no Brasil. Trata-se de quatro troncos que fazem alusão a Gildo Macedo Lacerda, que cursava Economia, Idalísio Soares Aranha Filho, estudante de Psicologia, Walkíria Afonso Costa, de Pedagogia, e José Carlos Novais da Mata Machado, discente do curso de Direito. Na terça-feira, dia 24, em cerimônia emocionante realizada no auditório da Reitoria, os quatro estudantes foram diplomados postumamente pela UFMG.
O idealizador da obra, o escultor e professor Fabrício Fernandino, do Departamento de Artes Plásticas da Escola de Belas Artes (EBA), conta que o monumento foi idealizado para estabelecer uma relação simbólica entre as jovens vidas ceifadas e os troncos tombados e inanimados. “É uma imagem forte, contundente e, ao mesmo tempo, poética. Adequada à gravidade daquele momento histórico”, diz.
O trabalho de restauração durou cerca de um mês. Além do reposicionamento do monumento, foi instalada nova placa junto aos troncos e plantado um ipê branco. O monumento também se tornou acessível para pessoas com deficiência. “Fizemos um novo suporte para a placa e criamos uma espécie de ‘coroa’, um jardim em volta dos troncos. Todo ano, quando florescer, o ipê vai coroar a memória desses estudantes e nos lembrar do que aconteceu durante a ditadura. Os troncos também foram revitalizados, e criamos um caminho que tornou o monumento acessível para as pessoas com deficiência. A obra passou a contar com um paisagismo que dá a delicadeza necessária ao resgate da memória dos estudantes”, conta Fernandino.
A restauração foi lembrada pela reitora Sandra Regina Goulart Almeida durante a diplomação póstuma dos quatro estudantes. “A instalação do monumento, em setembro de 2004, foi parte das comemorações dos 77 anos da UFMG. Agora, com sua revitalização, comemoramos os 97 anos da Universidade. Trata-se de uma singela homenagem àqueles jovens idealistas. Há 20 anos, portanto, a memória dos quatro está harmonicamente integrada à paisagem do nosso campus”, disse a reitora em seu discurso.
O monumento Liberdade foi proposto pela ex-diretora do Cedecom e professora aposentada do Departamento de Comunicação Social da Fafich, Maria Ceres Pimenta Spínola Castro, e o trabalho de restauração é fruto da parceria de vários setores da Universidade. Além de Fabrício Fernandino, participaram a pró-reitora adjunta de Administração, Eliane Aparecida Marques, os engenheiros Denílson Antônio de Paula, Laudicéia Maria Dias e Wantuir Saldanha, do Departamento de Manutenção e Operação da Infraestrutura (Demai), e o engenheiro agrônomo Rafael Sanches, da Divisão de Áreas Verdes do Departamento de Gestão Ambiental (DGA).
Fabrício Fernandino informa que o monumento Liberdade também marcou os 20 anos do término da ditadura militar no Brasil e, juntamente com a exposição Liberdade, essa palavra, rememorou a luta estudantil contra a ditadura militar.
“O tempo promove o esquecimento, então naquela época nós percebemos a importância do resgate da memória e da desconstrução desse esquecimento. As pessoas se acostumam com aquela obra e param de prestar atenção nela. O trabalho de restauração também traz essa renovação da lembrança”, diz.
A exposição Liberdade, essa palavra, teve curadoria de Fernandino e reuniu cerca de 90 imagens, entre fotos, cartazes, charges e panfletos, que retratavam momentos marcantes do movimento estudantil, de 1964 a 1984. Outro destaque foi a montagem de uma “trilha sonora”, com mais de cem músicas entoadas pelos estudantes da época. A mostra foi preparada pelo Projeto República, que organizou o seu acervo, e pelo Centro de Comunicação (Cedecom) da UFMG, responsável pela produção do catálogo.