Em 2018, o então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro utilizava o 7 de Setembro como oportunidade para açular homens e mulheres contrários aos 14 anos de governos do PT. Na época, chegou a dizer que iria “mandar” os petistas para a “ponta da praia”, local onde os torturadores, durante a ditadura militar, jogavam os cadáveres dos inimigos do regime.

Cinco anos depois, tentando manter sua cadeira no Palácio do Planalto, Bolsonaro já tem planos de utilizar novamente o Dia da Independência como palanque à reeleição. “É também um apoio a um possível candidato que esteja disputando. E isso está mais do que claro. E é uma demonstração pública de que grande parte da população apoia um certo candidato, enquanto o outro lado do outro candidato não consegue juntar gente em lugar nenhum do Brasil”, disse o presidente, em entrevista.

Neste ano, porém, fatores únicos marcam a data: o feriado festejará os 200 anos da Independência do Brasil em relação à Coroa portuguesa, e ocorrerá a menos de um mês do primeiro turno de uma eleição presidencial marcada pela polarização. Além disso, também haverá o retorno dos desfiles militares, que foram suspensos por dois anos devido à pandemia, o que deverá atrair mais pessoas para os locais dos festejos.

Na mesma entrevista, Bolsonaro confirmou que haverá manifestações políticas. “O que está sendo organizado, por exemplo, é o 7 de Setembro. É onde a presença do povo estaria dando uma manifestação de que lado eles estão. Eles querem aproveitar a data para ter uma grande concentração, por exemplo, em São Paulo, nas capitais, e aqui em Brasília”, disse.

Apesar da declaração do presidente deixar claro que pretende fazer da data mais um dia de tumulto, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirma que Bolsonaro falou que “a população poderia fazer uma manifestação, e não que ele convidaria”. “A manifestação do 7 de Setembro ocorre todos os anos há uma década e, este, comemoramos o bicentenário da Independência. Portanto, é natural que tenhamos um evento com grande participação popular”, minimizou.

O vice-presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro, Lincoln Portela (PL-MG), também ressalta que é “natural que as pessoas façam manifestações”. E enfatizou que serão atos pacíficos. “Nunca tivemos manifestações nossas de pessoas irem armadas, de terem confronto com a polícia, ou de grupos ideológicos se digladiando. Colocar o que colocamos na Avenida Paulista pacificamente, o que colocamos em Brasília pacificamente, não existe em lugar nenhum do mundo”, disse, referindo-se aos atos de 2021.

O cientista político do Insper Leandro Consentino avalia que os atos planejados por Bolsonaro são pensados de forma estratégica, para gerar a sensação de que há apoio popular. “Flertar com uma tentativa de golpe pode até anabolizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a migração para voto útil já no primeiro turno”, analisou.

Para o mestre em ciência política e professor do Ibmec-DF Danilo Morais, Bolsonaro não possui uma agenda que mobilize as massas. “A estratégia de emular o 7 de Setembro como um ato golpista evoca a dificuldade de lotar as ruas”, explicou.

Ameaças desde o começo

Nos últimos quatro anos, o presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou o 7 de Setembro para mobilizar suas bases. Pelo que se percebe das declarações que tem dado, em 2022 não será diferente

2018

Então pré-candidato à Presidência da República colocava mais fogo sobre o discurso antipetista. Em uma transmissão nas redes sociais, Bolsonaro começou sua manifestação dizendo que representava o povo. “Nós somos a maioria. Nós somos o Brasil de verdade”. E ameaçou: “Petralhada, vão todos vocês para a ponta da praia” (termo usado na ditadura militar quando os torturadores se desfaziam dos corpos das vítimas do regime).

2019

Bolsonaro convocou o primeiro ato como presidente: “A gente apela para quem está nos ouvindo, para quem está em Brasília, para quem, porventura, estiver no Rio de Janeiro ou em São Paulo, que compareça de verde e amarelo, que é para mostrar para o mundo que aqui é o Brasil, que a Amazônia é nossa”.

2020

Não houve desfile por conta da pandemia de covid-19. Mas Bolsonaro e a mulher, Michelle, se aproximaram de apoiadores que estavam nas grades do Palácio do Planalto, gerando aglomeração. Houve protestos na Esplanada dos Ministérios tanto de apoiadores quanto da oposição ao presidente.

2021

O primeiro ato antidemocrático por parte de Bolsonaro como presidente. “Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança” (…) “não vamos mais admitir pessoas como Alexandre de Moraes continue a açoitar a nossa democracia e desrespeitar a nossa Constituição” (…) “e dizer aqueles que querem me tornar inelegível em Brasília: só Deus me tira de lá. Dizer aos canalhas que nunca serei preso”.

2022

Em ritmo de campanha, Bolsonaro já planeja utilizar o bicentenário da República como palanque eleitoral. “É uma demonstração pública de que grande parte da população apoia um certo candidato, enquanto o outro lado do outro candidato não consegue juntar gente em lugar nenhum do Brasil”.

 


Paola Tito