Você sabe o que é estelionato sentimental? Pesquisa do instituto Pew Research Center revelou que o Brasil é o segundo país que mais utiliza aplicativos de namoro, atrás apenas dos Estados Unidos. Outro dado revelado é que por aqui, a procura por apps de namoro cresceu 215% durante a pandemia. No entanto, por detrás da praticidade de conhecer alguém compatível com seus gostos e interesses, está o risco de se envolver com um estelionatário e ter prejuízos que vão muito além de um coração partido.

Daniella Velloso Pereira, advogada especializada em direito das famílias, explica que o estelionato sentimental “simula um falso envolvimento amoroso, ou seja, a vítima acredita que está envolvida emocionalmente com o estelionatário, ao passo que esse busca apenas fins escusos, normalmente de ordem financeira ou patrimonial.”

Ela alerta que o estelionatário se aproxima da vítima ofertando à mesma tudo aquilo que lhe é mais caro: ou seja, se a vítima anseia por um companheiro, ele se mostra superpresente e atencioso. Se a vítima quer constituir família, ele demonstra as principais qualidades para corresponder a esse anseio, confiabilidade, emotividade, presteza, jeito com crianças, etc.

Com a promessa de um relacionamento sólido e duradouro, o golpista induz a vítima a entregar por meio de empréstimos, por exemplo, bens materiais e quantias em dinheiro. A pandemia fez com que estes casos aumentassem consideravelmente e, mesmo após o período de isolamento, ainda são muitos os golpes aplicados. Um dos casos mais recentes é o do mineiro Rafael Correa de Paula, que ostentava nas redes sociais um perfil cercado de luxos, e é suspeito de tirar vantagem dos parceiros que conhecia em um aplicativo de relacionamento.

Situação fantasiosa não se sustenta

Conforme a advogada, as mulheres, que são as principais vítimas, têm de ficar atentas a histórias “em que o estelionatário se coloca como vítima do destino, com pedidos urgentes e situações surreais. Ou seja, o estelionatário está sempre envolvido em uma situação absurda (sequestro, vítima de ex-esposas “inescrupulosas”, histórias que parecem verossímeis num primeiro momento, mas que não se sustentam nem mesmo a curto prazo. Portanto, se a vítima perquirir um pouco mais descobrirá que tal situação fantasiosa não se sustenta, é eivada de contradições e “buracos””.

Daniella Velloso Pereira avisa que, “se você acha que algo é bom demais para ser verdade, confie na sua intuição. Busque informações. Cuidado com redes sociais que aceitam qualquer perfil. Procure conhecer familiares e amigos íntimos.”

Mas como se prevenir diante de emoções e sentimentos, muitas vezes, incontroláveis? A orientação da advogada é procurar aquela amiga ou amigo ou parente sincero, que pode visualizar, com antecedências, sinais de preocupação.Sendo uma vítima, como agir?
Daniella Velloso Pereira explica que, se caiu no golpe do estelionátio emocional, a primeira atitude é “procurar uma delegacia e registrar queixa. Deve-se agir como em qualquer situação de crime, denunciar.”

A advogada destaca que, assim que suspeitar do estelionato, bloqueie cartões, avise aos bancos, mude o número de celular, ou seja, se proteja do bandido. E é importante também colher provas: “Conversas de WhatsApp, fotos do casal, transferências bancárias, enfim, tudo que possa demonstrar que a vítima estava sendo ludibriada”.

Mulheres idealizam demais

As mulheres são as maiores vítimas, eventualmente, homens também. Mas Daniella Velloso Pereira enfatiza que “as mulheres vítimas desse tipo de golpe são pessoas sentimentais, românticas, que idealizam o par perfeito. Muitas vezes atravessam um momento difícil, de carência ou desamparo. Ou seja, se apresentam, quer nas redes sociais ou mesmo pessoalmente, como pessoas disponíveis para início de um relacionamento, onde se dedicam ao máximo, se doam, em busca de reciprocidade e acolhimento.”

Não se julga, não sinta culpa ou vergonha

Para Daniella Velloso Pereira, o fato da mulher sucumbir ao estelionatário emocional, não é só uma questão de solidão, mas a idealização do par perfeito. “Esse “príncipe” não revela sinais de “sapo” no início. Apresenta uma história altamente convincente. Vende a imagem de homem/mulher ideal. Faz tudo para conquistar a vítima, para ganhar sua estima e confiança, muitas das vezes não apresenta sinais externos de carência financeira. São verdadeiros artistas, portadores de uma personalidade narcisista, egocêntrica.”

Daniella Velloso Pereira conta que o mais importante é a vítima não se culpar: “Qualquer pessoa, dependendo do momento, pode morder a isca. Não se julgue de forma excessiva, denuncie e busque apoio da família e amigos. A vergonha faz com que muitas vítimas se calem e isso aumenta a probabilidade de outras pessoas serem vítimas do estelionatário. Sempre haverá alguém em um momento de fragilidade, procurando acolhimento e amor, e o golpista tem o “faro” desenvolvido. Ele se aproveita dessa vulnerabilidade momentânea para aplicar o seu golpe. Volto a repetir, qual, dentre nós, já não foi enganado (a) em algum tipo de situação? Não julgar a si mesmo com excesso permite, não apenas, a autoproteção, mas a proteção do outro.”

 

 

 


Paola Tito